A temporada 2019/2020 estava a ser de excelência para a formação do SC Braga. Os sub-15, à imagem dos sub-23, sub-19 e sub-17, tinham garantido o apuramento para a fase de apuramento de campeão e preparavam-se para ir em busca do sonho do título. Todavia, o novo coronavírus COVID-19 obrigou a dar a época por terminada de forma abrupta e para trás fica a sensação de missão incompleta, mas ao mesmo tempo de dever cumprido.

César Silva é o treinador responsável pela campanha de alto nível dos sub-15 do SC Braga, donos de um registo de 22 vitórias, dois empates e uma derrota em 25 partidas disputadas. Neste período, os jovens Gverreiros foram demolidores no ataque, apontando 106 golos, e sofreram 21 tentos. Professor de Educação Física e também um apaixonado pela música, César Silva classifica a temporada de “excecional” e só lamenta que a canção perfeita para classificar 2019/2020 não seja a “We are the champions”, dos Queen.

César Silva: "Estávamos a construir um sonho"

É fácil conjugar dois mundos que tanto gosta, como o futebol e a música?

Nem sempre. O facto de ser treinador exige muito em termos vocais. Estamos constantemente num timbre muito alto e isso não é muito saudável para as cordas vocais. Mas a música é outra paixão que tenho e sempre que possível despendo algum tempo para ela.

Qual seria a música perfeita para esta temporada?

Gostava que tivesse sido a ‘We are the champions’, dos Queen. Infelizmente, não foi possível chegar a esse ponto. Mas é de realçar o trabalho excelente que foi feito com esta equipa este ano. Estes meninos estão todos de parabéns porque fizeram uma época extraordinária. Trabalharam sempre nos limites, foram muito raros os problemas ao longo da temporada com qualquer um deles porque todos perceberam o que estávamos a construir e o sonho que estávamos a conseguir alcançar, quer os que jogavam mais, quer os que jogavam menos. Mas o que fica é estes meses fantásticos de trabalho.

Fica um amargo de boca por não se ter disputado a terceira fase do campeonato?

Foi uma época excecional a todos o níveis: na relação humana que estabeleci com os atletas, na eficácia nos resultados porque eles dizem tudo e penso que, por aquilo que estávamos a fazer, a expectativa foi em crescendo. Tínhamos uma expectativa muito grande para esta terceira fase e penso que ficámos todos um bocadinho com água na boca, quanto ao que esta equipa poderia vir a fazer. Chegar até aqui era o nosso objetivo desde o início da época, lutámos por ele com unhas e dentes, mas depois caminhávamos para o sonho e o sonho era poder discutir o título de campeão nacional. Penso que estavam reunidas as condições para isso.

Fica a consciência tranquila de que o trabalho realizado até à paragem estava a ser bem feito?

A nossa equipa foi avassaladora do ponto de vista ofensivo, com uma média superior a quatro golos por jogo, com processos, para além de eficazes, atrativos. Quem acompanhou esta equipa compreende que ficou um amargo de boca perante a possibilidade desta terceira fase poder ser boa para nós. Quem está num clube como o SC Braga, com estas condições de trabalho, com esta massa humana e capacidade de reunir o talento individual, que é os jogadores, e a capacidade profissional de todas as pessoas que estão a trabalhar na estrutura terá sempre uma vida mais facilitada. No entanto, obviamente, isso não chega. As palavras do nosso presidente são sempre no sentido de sermos mais exigentes, mais ambiciosos e essa mensagem chega claramente até nós. A nossa estrutura está cada vez mais preparada para o alto rendimento e mesmo nas camadas jovens mais baixas o nível e qualidade de trabalho aproxima-se de uma primeira Liga. Basta dar o exemplo da minha equipa técnica, que são 13 pessoas a trabalhar diariamente. Isto é indicador da quantidade de pessoas qualificadas que estão a desenvolver o seu trabalho para a obtenção de sucesso desportivo e de rentabilizar os ativos que temos. Temos jogadores com muita qualidade e se olharmos para as chamadas à seleção de sub-15 vemos três nomes com muita frequência e mais quatro ou cinco nomes que também vão aparecendo. Ou seja, isso significa que este grupo reúne bastante talento.

Há vários jogadores que ganharam protagonismo esta época, mas também fica a ideia de que esta equipa, apesar de ser jovem, sabe as características que cada atleta tem e jogar consoante isso…

Hoje, o treinador de ter capacidade e sensibilidade para gerir todos os recursos que tem à disposição, seja na equipa técnica, onde temos profissionais de diferentes áreas e devemos rentabilizar as capacidades de cada um, e ao mesmo tempo potenciar a capacidade individual dos jogadores para coletivamente haver uma expressão que seja positiva e impulsionadora para a equipa melhorar. Nós conseguimos fazer isso. Quem acompanhou os sub-15 do SC Braga percebeu que na primeira fase tivemos uma dinâmica de uma determinada estrutura, na segunda fase noutra estrutura… Ou seja, esta alteração foi no sentido de potenciar ainda mais aquilo que cada jogador poderia acrescentar ao grupo. Penso que a terceira fase seria a fase de refinamento. Mas ficam muitas coisas positivas para falar desta época e não podemos só alimentar os jogadores que tiveram mais sucesso ou mais mediatismo. Temos de olhar também para os jogadores que não jogaram tanto, mas que com capacidade de trabalho conseguiram criar condições no treino de forma a aproximar da competição. Tudo isso vem dar valor a este grupo de trabalho.

Esta época, todas as equipas de formação do SC Braga chegaram às respetivas fases finais. É reflexo do bom trabalho e de como a formação é uma aposta segura do clube?

Qualquer clube em Portugal terá que valorizar cada vez mais a formação. O caminho é esse. Longe vai o tempo em que se iam buscar jogadores de outros países para alimentarem as equipas principais. O que nós precisamos é de rentabilizar o que de bom temos, que é a qualidade do futebol e do jogador português, que é refinado, muito versátil do ponto de vista tático e com capacidade de poder chegar às equipas principais. No SC Braga vamos ver cada vez mais jogadores da formação aparecer na equipa A. Há um trabalho transversal que começa cada vez mais a ser visível porque temos uma estrutura que já tem alguns anos de trabalho. E quando as estruturas estão bem oleadas e há uma sintonia entre as equipas técnicas da formação e da equipa A tudo se torna mais fácil. Os saltos passam a ser cada vez mais fáceis de executar, por isso vemos alguns juvenis a treinar na equipa A e cada vez mais os atletas de tenra idade vão tendo mais essa oportunidade.

Veja a entrevista na íntegra aqui: