O Planeta Braga viajou até à casa de José Carvalho Araújo, treinador dos Sub-23.

Em jeito de balanço de uma temporada com adeus precoce, o jovem técnico bracarense lançou as bases para o futuro. Fê-lo com confiança depositada no bom trabalho desenvolvido na Cidade Desportiva.

O momento é de grande desafio, mas garante um SC Braga bem estruturado e preparado para enfrentá-lo.

 

 

O período de isolamento

“Estamos isolados e o grande desafio tem passado por estar com a família. Muitas vezes falamos que o tempo é escasso para estar com eles e agora acabamos por estar juntos 24 sobre 24 e temos que estar preparados para dar resposta (risos)”.

Adaptação à realidade

“É um momento que não é fácil. Tentamos manter, desde o primeiro, a rotina diária dos jogadores, com um microciclo muito bem definido. Inicialmente incidiu mais sobre o trabalho físico, porque tínhamos esperança de voltar de forma rápida. Não foi o caso e, estando neste registo, temos que evoluir. Temo-nos adaptado à realidade, com o apoio de todos os elementos do nosso staff técnico. Sentimos, claramente, falta do contacto humano, mas felizmente existem aplicações que nos permitem interagir em grupo antes de cada treino”.

 

 

Novos estímulos numa evolução contínua 

“A incerteza e indefinição que pairou nas nossas cabeças durante algum tempo foi uma das grandes dificuldades que encontramos. Ficarmos arredados da fase final, um momento pelo qual todos desejamos, não foi fácil de gerir. Fomos obrigados a adaptarmo-nos e obrigados a introduzir novos estímulos. Introduzimos bola aliada à questão física. Conseguimos melhorar a predisposição para trabalhar. Estamos, também, a trabalhar a parte cognitiva através de questionários. Os Sub-23 fazem parte de um processo de formação e haverá desafios nos próximos tempos. O campeonato acabou, mas o processo de evolução não. Ainda há muito caminho para percorrer”.

O enquadramento dos Sub-23

“Temos que ter consciência daquilo que representam os Sub-23 no Universo SC Braga. É um espaço de formação e de dar continuidade àquilo que são os nossos jogadores mais jovens num contexto de maior dificuldade. Temos uma equipa jovem, que será cada vez mais jovem. Para poder transportá-los para um patamar competitivo mais elevado e para dar minutos a jogadores que necessitem de jogar e que possam estar a regressar de lesão, como foi o caso do Raul Silva e de alguns jogadores da equipa B. É, também, um espaço aberto a juniores e juvenis que queiramos potenciar num patamar acima. O clube tem um modelo de jogo transversal e isso facilita todas estas oscilações. O clube tem uma identidade muito própria e isso torna as coisas mais fáceis”.

 

 

Sub-23 como ‘terra’ de oportunidades

“O Rogério conseguiu ter minutos connosco que lhe permitiram estar mais seguro de si, afirmar-se na equipa B e até ser chamado à equipa principal. O Samuel Costa surge no mesmo registo, mostrando num campeonato muito competitivo e intenso que estava pronto. Depois há a questão da oportunidade e o clube tem dado oportunidades aos jogadores formados na Cidade Desportiva”.

Presente sustentado abre boas perspectivas para o futuro

“Começa a ser um cliché dizermos que o SC Braga é um dos grandes. Porque o é. É o clube que mais cresceu nos últimos anos. Temos condições que invejam qualquer um. Com a Cidade Desportiva, estamos a um nível fantástico a nível de condições. Com tudo isto, temos que fazer ainda mais e melhor. A geração de 1999 é algo que me está muito presente porque estive com eles desde os Sub-13. Falo do Trincão, do David Carmo, do Reko, do Moura… Há aqui uma geração de grande qualidade. Mas temos que ter consciência de que na formação nada acontece de imediato. Há que dar tempo. Se continuarmos a dar as oportunidades e o tempo necessário, acredito que mais gerações vão dar a mesma reposta. Nesse sentido, estamos a trabalhar muito bem”.

 

 

SC Braga preparado para um novo futebol

“O SC Braga não está a investir na formação por necessidade, mas sim por estratégia. Isso diz-nos que estamos a fazer as coisas bem. Tudo isto vai ter grandes impactos na economia e, por consequência, no futebol. Até por uma questão social, o futebol não vai poder gastar os milhões que gastava. O investimento vai ter que ser mais certo e terá que passar muito pela prata da casa. Pode vir a ser um período ótimo para aqueles jogadores que estão prontos para dar o salto”.

Momento de reflexão e… evolução

“Estamos muito focados em fechar esta época da melhor forma e o grande desafio passa por aproveitarmos este momento para crescermos. Criarmos ferramentas para nos questionarmos nos momentos certos. Nos bons e nos maus. Estamos, como equipa técnica, a desenvolver trabalhos nesse sentido. Nos, como equipa C, procuramos ter um grupo cada vez mais jovem. Pegar nos melhores jogadores da formação e coloca-los a num nível que consideramos ótimo para demonstrarem o seu valor. Queremos que cresçam na adversidade, com jogos difíceis perante adversários mais maduros”.

 

 

Temporada de jogos marcantes

“Tivemos algumas boas vitórias, sobretudo contra equipas mais pesadas e com outra experiência. Podemos, pela questão emocional, pegar no jogo com o Rio Ave FC onde vencemos e o Rui Ribeiro defendeu dois penáltis. É daqueles jogos que ficam na memória. Os dois últimos jogos contra o CD Aves e o Sporting CP, onde demos uma grande resposta. Fomos perfeitos no plano técnico e tático. Ficamos com um sabor amargo porque tudo parou num momento em que estávamos bem e onde podíamos entrar numa reta final interessante”.

A liderança de quem quer sempre mais

“A questão de liderança tem sido algo fantástico. Quando comecei com esta geração nos Sub-13, os recursos eram escassos. Poucos treinadores, poucos campos… A evolução do clube levou-nos para outro patamar. Neste momento o nosso staff é vasto e não nos falta nada. E tudo isto acaba por ser um desafio à liderança, num grupo onde é necessário motivar e tirar o melhor de cada um. É um grande desafio porque é algo recente. Penso que estamos a fazer as coisas bem nesse sentido. Sou exigente, rigoroso e ambicioso. No futebol e na vida temos que querer sempre mais”.