Com 18 anos de SC Braga, Tiago Sá é um verdadeiro exemplo no que toca ao compromisso e à dedicação em servir o Clube. O guarda-redes do clube arsenalista é um dos capitães da formação liderada por Artur Jorge e um dos jogadores mais acarinhados pelos adeptos.

– Como começou o teu gosto pelo futebol?

Comecei a jogar futebol com os meus amigos e com os meus primos na rua em Vila Verde. Joguei no Prado durante alguns meses e entrei para as escolinhas do SC Braga em 2004. Quando entrei para o SC Braga comecei a levar o futebol mais a sério.

– Onde nasceu esse espírito competitivo?

Sempre fui competitivo. Quando era miúdo tinha um primo da minha idade que jogava sempre contra mim. Eu e ele ficávamos sempre em equipas diferentes porque éramos os que jogavam melhor, então havia ali uma competitividade muito grande entre nós para ver quem ganhava. Desde pequenino que luto sempre para ganhar. 

– Sempre quiseste ser guarda-redes?

Comecei a jogar como jogador de campo nas escolinhas. As primeiras fotos que tenho no SC Braga é como avançado e tinha umas botas do Ronaldo Fenómeno. Tínhamos torneios uma vez por mês e ficamos sem guarda-redes e tive de ir muitas vezes à baliza. O treinador perguntou-me se queria ficar definitivamente na baliza e eu aceitei. Corria menos e era onde me safava melhor (risos).  Pedi umas luvas ao meu pai, troquei o equipamento de avançado pelo de guarda-redes e até hoje nunca larguei a baliza.

– Conseguiste concluir os estudos?

Concluí o 12º ano e entrei na universidade. Decidi parar, mas ainda tenho o objetivo de no futuro tirar Negócios Internacionais na Universidade do Minho. Entretanto já tirei o 1.º e o 2.º nível de treinador de futebol. Quero ter várias opções quando terminar a carreira de futebolista.

– Quase 20 anos ao serviço no SC Braga, o que significa para ti o clube?

É uma verdadeira família, a minha casa, não existe outra forma de o dizer. São muitos anos, muitos anos de formação, muitos anos aqui na equipa A. Esta pré-época foi a minha 10ª consecutiva porque ainda era júnior e fiz a pré-época com a equipa principal. Passo mais horas aqui do que na minha casa. Quando era miúdo ia para o Estádio 1º de Maio treinar durante a tarde e só regressava à noite a casa entre 20 e as 21 horas. Já convivo com as pessoas do Clube há muitos anos e são parte da minha história.

– Quais foram os teus melhores momentos ao serviço do Braga?

A época em que fiz mais de 30 jogos na 1º liga com o Abel foi muito importante para mim porque foi a minha época de afirmação. Era jovem, tinha 23 anos quando comecei e não estava à espera porque tinha um grande guarda-redes a trabalhar comigo, o Marafona. Na altura o Matheus estava lesionado e o mister Abel apostou em mim, isso marcou-me muito. A última Taça de Portugal que conquistámos também me marcou porque participei em quase todos os jogos da competição. Depois, o inesquecível título nacional de juniores, que teve uma grande importância para o Clube. Todas as conquistas e todos os momentos que vivi aqui foram especiais, mas estes foram os que significaram mais para mim.

– Foste um dos poucos atletas da tua era a chegar à Equipa Principal. A Cidade Desportiva mudou o paradigma?

Teve um peso muito grande na mudança. As condições de trabalho que existem na academia são ao nível das que temos na equipa principal. Quando jogava na formação não existiam GPSs, não havia como monitorizar os jogadores e acompanhar a evolução física, por exemplo. Tínhamos profissionais qualificados, tal como agora, mas não existiam as mesmas condições. Hoje temos muitos mais jogadores a chegarem à equipa principal e não tenho dúvidas que as condições que oferece a Cidade Desportiva são a base desse sucesso.

– És um dos atuais capitães do SC Braga. Sentes a responsabilidade de acolher os jogadores mais novos?

Tento ajudar que se sintam bem e passar o significado do que é representar o SC Braga. Passar esse significado não com as palavras, mas com as ações em todos os treinos e em todos os jogos. Um jogador do SC Braga tem de lutar em todos os treinos e em todos jogos pela vitória, quem chega tem de ter essa mentalidade. O grupo atual é muito tranquilo e fácil de liderar, os mais velhos dão o exemplo em todos os momentos através do rigor no trabalho.

– O que faz do Braga um clube especial?

O Braga é um clube especial que não tendo o mesmo número de sócios, os mesmos orçamentos que muitos bate-se com todos nos últimos anos de igual para igual. O ano passado ganhamos no campeonato metade dos jogos aos ‘grandes’. Isso significa que o dinheiro e as camisolas não ganham os jogos antes dos mesmos acontecerem, os jogos são ganhos pela melhor equipa. O futebol é bonito por causa disso, começa o jogo e ninguém sabe quem vai ganhar, não é o clube mais rico, não é quem tem os melhores jogadores, nem é a camisola. Por isso é que considero o Braga um clube especial porque há muitos anos que com menos poderio financeiro consegue lutar de igual para igual com todos. Os bracarenses personificam isso mesmo porque são lutadores, genuínos, conseguem sempre superar-se e acho que o Braga é um perfeito exemplo disso mesmo.

 

– Quais são os melhores momentos da carreira?

Tenho dois jogos especiais na equipa principal. O primeiro foi a estreia em Chaves e o segundo foi contra o Sporting CP, que considero o meu jogo de afirmação, o primeiro teste de fogo que tive pela equipa A. O jogo em Leiria em que ganhamos o campeonato de juniores também foi muito importante. No mesmo seguimento, não sendo no clube, o Campeonato da Europa sub-19 em que defendi os pénaltis que deram acesso à final. A Taça de Portugal de 2016 a vencer 2-0 e viver o pesadelo do ano anterior em que nos deixamos empatar nos últimos 2 minutos foi um jogo também foi muito especial para mim. Por último, o facto de termos ganho a taça 50 anos depois foi um momento muito marcante na minha carreira.

– Quais é que são as tuas referências no futebol?

Casillas e Buffon. O Casillas por durante alguns anos ter a oportunidade de jogar contra ele algumas vezes em Portugal e trocar a camisola. Buffon pelo número de anos que esteve no top, para mim é o melhor da história por isso. Não é fácil estar mais de 20 anos a jogar ao mais alto nível.

A pessoa com quem eu mais aprendi no Braga foi o Custódio porque quando cheguei à equipa A foi uma pessoa que, sem falar muito, mostrava ter o ADN do Clube e era um exemplo na forma de trabalhar.

– Que sonhos te faltam concretizar?

Campeonato Nacional está no topo da lista de objetivos do SC Braga, não digo que é sonho porque acho que é um objetivo e que se trabalhar as coisas acontecem, não sei quando mas acredito que um dia vai acontecer e quero jogar a Liga dos Campeões. Tenho alguns jogos na Liga Europa, campeonatos, taças mas quero jogar a Liga dos Campeões. Treinei com a equipa principal quando estavam na Liga dos Campeões e percebi que são momentos que marcam um jogador.

– Qual é o balanço que fazes da pré-temporada até ao momento?

Muito positiva. Estamos a trabalhar com e novo treinador e estamos a adaptar-nos bem às suas ideias. Temos de continuar a trabalhar porque ainda não está perfeito, a perfeição não existe, mas procura-se. Vamos trabalhar todos os dias para sermos cada vez melhores.

– Objetivos para esta temporada?

A nível pessoal fazer mais jogos do que na época passada, ter mais minutos. Sei bem o papel que tenho neste clube e neste plantel do Braga, mas também treino e trabalho todos os dias para jogar e para estar pronto para jogar quando o Mister quiser. A nível coletivo queremos fazer melhor que na época passada. Essas “armas” que temos aqui dentro, esse querer e essa vontade de ser melhor todos os dias é leva-nos obrigatoriamente a querer fazer melhor do que na época passada. Na época passada fizemos uma excelente campanha da Liga Europa, um campeonato bom para aquilo são os nossos objetivos claros, um quarto lugar tranquilo em que vencemos metade dos jogos contra as equipas que ficaram nos 3 primeiros lugares acima de nós. O nosso objetivo é claramente fazer melhor do que na época anterior.

– O que os adeptos podem esperar do SC Braga?

Uma equipa que vai jogar sempre para ganhar. É esse o nosso foco. Não vamos falar de jogos que venham pela frente e nem pensar nisso, é foco total no primeiro treino da semana para o próximo jogo e será sempre assim, do primeiro ao último minuto a tentar deixar tudo em campo para ganhar.

 

Curiosidades

Séries preferidas: Prison Break, Game of Thrones, Peaky Blinders

Música: Todos os estilos menos rock pesado;

Viagem: Ilhas Gregas

Passatempo preferido: Playstation; Call of Duty

Pessoas: Pais e esposa que trabalham todos os dias para serem melhor, são pessoas humildes e que abdicaram de muito para termos o que temos hoje.