Herdou o apelido mas também o gosto – e jeito – pelo futebol. Yan Said, filho de Wender Said, desde cedo seguiu as pisadas do pai, criou nele a maior referência dentro e fora do relvado e admite mesmo ser o seu maior fã. A modalidade acabou por ser um dos mais fortes elos de ligação entre ambos e nem o tempo que a profissão exigia longe da família quebrou laços que, com o passar dos anos, cada vez mais se foram reforçando.

 

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Yan Said era presença assídua nos treinos e jogos de Wender, papel que agora se inverte. A paixão em comum tem reflexo também no clube que Yan, atualmente a atuar nos Gverreiros Sub-19 e nas escolinhas do SC Braga desde os 3 anos, apenas deixou ao ter de abandonar o país para acompanhar a aventura do pai no futebol cipriota, altura em que enfrentou a ausência do irmão e viveu a falsa experiência de filho único.

Diz ter na forma “desajeitada” de correr uma das maiores parecenças com o seu pai, entra em campo da mesma forma que o via entrar, quis ser avançado para que pudessem, também, gritar o seu nome como tantas vezes ouviu nas bancadas o de Wender, mas hoje, com 17 anos, afirma não querer viver do passado. Yan carrega o ‘peso’ e sobretudo o orgulho da história, ambicionando também ele deixar o seu cunho num universo que tão bem conhece.

 

 

“A história dele está feita,

                   vou tentar fazer a minha”.

 

 

 

 

Esta paixão pelo futebol deve-se essencialmente ao teu pai?

Para mim o futebol e o meu pai são duas coisas que estão muito interligadas. Mal comecei a andar ele deu-me uma bola, desde que me conheço que isso faz parte da minha vida, e como o acompanhava nos bastidores dos jogos e treinos foi nascendo um bichinho. Queria sempre seguir o que ele fazia, foi-me dando a vontade de ser jogador de futebol e cresceu essa paixão dia após dia.

 

E como foi vivenciar esse ambiente desde tão novo?

A vida de jogador por vezes faz com que os pais passem pouco tempo com os filhos, mas sempre que ele podia levava-me com ele, convivia muito no autocarro nos jogos fora, ia ao balneário no final e ele sempre foi a mesma pessoa: alegre, atento para saber se tinha aprendido alguma coisa com aquilo que estava a viver porque sempre quis que eu aprendesse com os melhores exemplos, com ele mas também com os colegas de equipa e equipa técnica. Sempre quis com que eu aprendesse com as melhores pessoas.

 

Mesmo com a vida ocupada pelo futebol, o teu pai sempre foi por isso um pai muito presente?

Sempre, sempre. Acho que também devido àquilo que ele viveu na infância, o pai dele não era muito presente por causa do trabalho e ele tentou que isso não acontecesse na nossa casa. Esforçou-se sempre para estar o máximo de tempo possível comigo e com o meu irmão, brincávamos muito nos tempos livres dele, dávamos muitos passeios, temos até fotos de quando íamos andar de bicicleta à frente do estádio, foi sempre um pai muito presente.

 

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E como decorreu o processo até começares a aprender a jogar futebol?

Como disse, eu acompanhava muito os treinos do meu pai e ia com o meu irmão, que é mais velho. Acabava por ficar um pouco de lado uma vez que ele já jogava nas camadas mais jovens, isso também me ‘atiçou’ um bocadinho. Como ele jogava à bola e o meu pai também quis muito aprender e aos três anos entrei para as escolinhas do SC Braga.

 

 

 

 

Esta ‘queda’ para o ataque, a tua posição de avançado, tem uma explicação?

Ver o meu pai a jogar e a marcar foi sem dúvida uma das razões. O objetivo do futebol, a alegria do futebol, é o golo, e ao vê-lo marcar, ao ouvir o speaker dizer o nome dele e os adeptos também deixava-me contente e com ainda mais vontade de replicar aquilo a que assistia. Essa é uma das razões para eu querer jogar mais à frente no terreno.

 

Recuando ao tempo de ‘bastidores’, houve alguma história engraçada durante essa altura?

Tenho algumas. O meu pai brincava comigo a propósito do João Tomás, quando ele marcava no final do jogo eu ia sempre para a beira dele e esquecia um bocadinho o meu pai. Ele ficava com alguns ciúmes, brincava comigo dizia sempre que só queria saber dos jogadores que faziam golo.

 

A mudança para o Chipre, como foi gerida?

Foi um bocado difícil para mim, para o meu pai foi mais fácil. Já era experiente, estava em final de carreira e foi fácil a adaptação. Um jogador de 34 anos quando vai para o Chipre já leva muita bagagem, mas no meu caso o mais difícil foi habituar-me ao facto de não ter comigo o meu irmão. Ele ficou em Portugal com os meus avós, estava acostumado a tê-lo comigo e quando fui para o Chipre foi como se tivesse virado filho único. Tinha sete anos, prestes a fazer oito.

 

 

Alguma vez sentiste que o teu pai gostaria de ter os dois filhos ligados ao futebol?

Nos momentos mais difíceis que tive na modalidade a primeira coisa que ele dizia era que se eu quisesse deixar o futebol ele entendia porque o mais importante era a minha felicidade. Nunca nos pressionou, nunca nos obrigou a ser jogadores de futebol, sempre foi uma decisão nossa. Tanto está contente com o facto de eu ter seguido o futebol como pelo meu irmão, que acabou por ingressar na universidade e está neste momento a tirar mestrado em Desporto.

 

E quando assinaste o contrato profissional, como é que ele reagiu?

Nesse tipo de assuntos o meu pai tem sempre uma reação muito calma. Disse: ‘Pronto, conquistaste o teu objetivo, mas tu ainda estás no início da escada, precisas de subir degrau a degrau, com calma. O contrato já está, agora tens de procurar outro objetivo para alcançar’. Acho que essa forma de ele ser, de nunca estar satisfeito, é positiva para mim e faz com que eu trace objetivos a longo e a curto prazo.

 

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Na entrevista que deste na altura disseste que preferias ser conhecido como o Yan do que pelo filho do Wender. Consideras que cada vez mais tens conquistado o teu espaço?

Penso que sim. No início da minha carreira sempre fui visto como o filho do Wender, mas com o passar do tempo e com aquilo que fui conquistando acho que estou cada vez mais perto de conseguir a minha meta, que é ser conhecido como o Yan. A história dele está feita, vou tentar fazer a minha.

 

O facto de seres filho de um jogador de futebol prejudicou-te em algum momento?

Aos olhos dos outros prejudicou um bocado… No início algumas pessoas pensavam que a minha presença ali era por ser filho do Wender e não por mérito próprio. Quando ouvia essas coisas ficava mesmo chateado e em vez de questionar o porquê sempre fui guardando para mim, sempre fui tentando provar a cada dia que essas pessoas estavam erradas.

 

No futebol fala-se muitas vezes da importância em existir uma barreira entre treinador e pai. Tendo um pai que foi futebolista, ele soube separar estes papéis?

Em relação a isso nunca tive problemas, o meu pai é das pessoas mais profissionais que conheço em saber diferenciar a barreira entre pai e treinador. Ele também é treinador e sabe como um treinador pensa. Sabe agir como treinador e sabe agir como pai. As únicas coisas que ele me fala é de atitudes individuais que tenho no jogo e não de algo que possa interferir com a função do meu treinador.

 

 

 

Quais as parecenças e diferenças que consideras ter em relação ao teu pai?

Parecenças? A forma de correr, a forma desajeitada de correr… Às vezes, quando acaba o jogo, vou ver a transmissão na Next e puxa… nem sei como consigo correr, parece que me vou desmontar todo, é muito feio (risos). Acho que isso e a forma de pensar o jogo são as coisas mais parecidas. De diferente, acho que tenho mais faro para o golo do que o meu pai.

 

É ele o teu maior fã?

Sim, ele é o meu maior fã e eu sou o maior fã dele. Como é que o prova? Na maneira como ele fala comigo, naquilo que ele faz por mim… E se há algo que pode explicar o porquê de eu ser o maior fã dele é que eu sempre fui viciado nas coisas que ele fazia, como um ídolo. Sempre na linha da frente para ver o que ele fazia de novo, tenho os DVD’s dele em casa e vejo-os muito, gosto de relembrar o tempo em que ele era jogador e às vezes até sinto falto de o ver jogar. Quando ele vai a uma ‘pelada’ até costumo acompanhá-lo, porque a saudade é muita de ver o ‘velhote’ jogar.

 

Há algo inspirado nele que transportes para dentro de campo?

A forma de entrar dentro de campo, de dar os dois saltos com o pé direto e o facto de jogar com meias curtas. Só falta o cabelo, mas o cabelo grande fica mal, todo encaracolado, não dá.

 

 

Como descreverias o Wender Said enquanto jogador e enquanto pai?

Como jogador muito inteligente, com uma perceção de jogo acima da média, não sei se algum dia conseguirei chegar ao nível cognitivo dele nesse sentido. Enquanto pessoa muito humilde, muito pai, muito carinhoso, muito brincalhão, muito chato, é muito tudo…. Mas é algo que se junta e se torna nesta admiração enorme que tenho por ele.