Com um espírito indomável e um coração repleto de sonhos, Emma Huff atravessou o Atlântico para vestir a camisola do SC Braga. A base canadiana, de 27 anos, chegou ao clube na temporada 2023/24 com a ambição de levar o basquetebol feminino bracarense a novos patamares. Rapidamente, se tornou uma referência, não apenas pela versatilidade e garra que demonstra em campo, mas também pela sua personalidade comunicativa e carismática, capaz de conquistar todos ao seu redor.

A jovem Gverreira encontrou em Braga um lugar onde os sonhos crescem e as ligações fortalecem. Entre culturas por descobrir, amizades para a vida e a paixão pelo jogo, abraçou a cidade e a equipa como sua. E é nessa entrega autêntica, dentro e fora do campo, que reside a verdadeira essência de uma Gverreira que fez de Braga a sua casa. 

Uma paixão desde a infância: “Começou muito cedo. A primeira vez que joguei numa equipa foi aos oito anos, mas o basquetebol já fazia parte da minha família antes disso. Crescemos com duas tabelas de basquetebol no quintal, e eu passava horas a jogar com o meu irmão e a minha irmã desde muito nova. Pratiquei vários desportos na infância, mas o basquetebol foi sempre o meu favorito”.
 
Inspiração familiar: “O meu pai jogou basquetebol universitário no Canadá e, na altura, eu achava que isso era o equivalente à NBA. Ele foi o treinador da primeira equipa em que joguei, quando tinha oito anos, o que tornou a experiência ainda mais especial. Muitas vezes íamos assistir aos jogos das equipas universitárias locais enquanto eu crescia, e tanto as mulheres como os homens que jogavam inspiravam-me imenso. Por isso, soube desde muito cedo que era algo pelo qual queria trabalhar”.
 
Para além do basquetebol: “Sou uma pessoa social, que gosta de conhecer novas pessoas. Criar novas conexões sempre foi um valor importante para mim e, claro, passar tempo com as pessoas que amo. Apesar de muitas delas estarem agora no Canadá, faço o meu melhor para manter o contacto. Adoro viajar e estou sempre à procura de aprender algo novo. Tento manter uma perspetiva positiva e otimista, e procuro partilhá-la isso com as pessoas à minha volta sempre que posso. Acho que sou uma pessoa bastante simples e gosto de aproveitar as pequenas coisas do dia a dia, como tomar um café com amigos ou ver o pôr do sol. Já no que diz respeito à gastronomia em Portugal, adoro uma boa francesinha, mas também uma tosta mista e um pastel de nata”.
 
Os maiores desafios de viver longe de casa: “No início, foi difícil ajustar-me aos horários. Aqui, os treinos aqui são muito mais tarde à noite e os jantares são mais tardios. Mas, depois de três anos em Portugal, já me sinto bastante confortável com isso. Acho que, para muitas pessoas que jogam no estrangeiro, o maior desafio é estar longe da família, do sistema de apoio e dos ambientes onde nos sentimos mais confortáveis. Sinto-me sortuda por ter um ótimo sistema de apoio aqui em Portugal e por me sentir genuinamente em casa”.
 
O suporte familiar: “Sei que vou ter sempre o apoio dos meus amigos e da minha família, mesmo à distância. Já estou fora há três anos, mas eles continuam a acompanhar a minha jornada no basquetebol. Eles acompanham-me nas redes sociais e assistem aos meus jogos sempre que podem. A minha mãe, em particular, nunca se esquece de me enviar uma mensagem de ‘Game Day’ sempre que tenho um jogo”.
 
A aventura de aprender português: “Sempre tive curiosidade por línguas e sinto-me muito motivada a perceber o que as pessoas dizem à minha volta. Lembro-me das minhas primeiras semanas em Coimbra, em 2022, e do quanto desejava compreender melhor o português. Por isso, comecei a fazer muitas perguntas, a pedir às minhas colegas de equipa para traduzirem e para me explicarem como se escreviam as palavras. Aos poucos fui entendendo cada vez mais. Eventualmente, deixei de precisar de um tradutor nos treinos e nos jogos”.
 
Acolhimento no Clube: “Tenho adorado estar aqui desde o primeiro dia. Apesar de só ter chegado em janeiro de 2024, a meio da época, fui recebida de forma incrível. As minhas colegas de equipa e a equipa técnica foram super acolhedores, o que tornou a transição muito fácil. Também tenho de destacar a equipa de fisioterapia e o staff da Arena, que são pessoas incríveis e tornam esta experiência ainda mais especial. No ano passado, criei grandes amizades muito rapidamente, por isso sinto-me muito sortuda por ter vindo para Braga e por continuar nesta cidade e Clube”.
 
Segunda época no SC Braga: “No geral, foram as pessoas que me fizeram gostar tanto do Clube. Depois da última época, sabia que, se tivesse a oportunidade de voltar, aceitaria sem hesitar. A família Pinheiro e a família Noivo contribuíram muito para me fazer sentir em casa, recebendo-me para jantares e ‘adotando-me’ no Natal. Além disso, as minhas colegas de equipa, tanto do ano passado como deste ano, foram fundamentais. São elas que tornam esta experiência tão especial e que me fazem adorar viver aqui”.
 
O apoio dos adeptos: “São sempre incríveis. Sei que temos muitas pessoas a apoiar-nos, tanto nos jogos em casa como nas deslocações. Durante o tempo que tenho estado aqui, tive a oportunidade de conhecer alguns adeptos e também algumas jovens da formação que vêm apoiar-nos nos jogos. Isso tem sido, sem dúvida, uma das minhas partes favoritas desta experiência”.
 
Diferenças entre o basquetebol no Canadá e em Portugal: “Na universidade, no Canadá, jogava num sistema muito eficaz, mas também muito rígido. Não havia muito espaço para criatividade ou para jogar fora do sistema estabelecido. Em geral, o estilo de jogo em Portugal tende a ser mais fluído, com mais movimentação, e os jogadores são incentivados a fazer leituras do jogo e a desenvolver-se para além de um sistema estruturado de regras. Já joguei nos três níveis do basquetebol em Portugal e tive a oportunidade de jogar com e contra muitas jogadoras de altíssimo nível, com excelentes capacidades táticas, que são criativas e conseguem marcar pontos de várias formas”.
A cultura do high five: “Há high five por todo o lado, para toda a gente, o tempo todo. Fiquei surpreendida quando joguei o meu primeiro jogo em Portugal e percebi que tínhamos de cumprimentar toda a gente – a nossa equipa inteira, a mesa de estatísticas, os árbitros e até a equipa adversária. No Canadá, isso simplesmente não acontece!”
 
Crescimento pessoal através do basquetebol: “O basquetebol é o lugar onde me sinto mais eu mesma, mais confiante e em casa. Sempre fez parte da minha identidade. Este desporto ensinou-me a importância do trabalho em equipa, da comunicação e do respeito pelos outros. Aprendi a lidar com desafios, a gerir a pressão e a persistir, mesmo quando as coisas não correm como planeado. Além disso, o basquetebol dá-me a oportunidade de conhecer pessoas de diferentes origens e culturas, tornando-me mais empática e aberta ao mundo. É graças ao basquetebol que tenho a oportunidade de viver em Portugal. Sou muito grata por isso!”
 
Tempos livres: “Gosto de explorar a cidade e experimentar novos cafés ou restaurantes. Adoro uma boa aventura e, sempre que tenho um dia de folga, gosto de apanhar o comboio para o Porto ou voltar a Coimbra para visitar amigos. Em Braga, a minha atividade favorita é assistir ao pôr do sol no Sameiro – sempre que posso, tento ir até lá!”
 
Metas a curto e longo prazo: “Quando vim para Braga no ano passado, acreditei neste projeto e no sonho de ver o basquetebol feminino do SC Braga a competir ao mais alto nível em Portugal. Um dos meus objetivos é fazer parte desse crescimento e dar o meu máximo para ajudar a equipa a chegar lá. Fazer parte do esforço de levar esta equipa do CN2 à Liga Betclic seria incrível. A longo prazo, sei que o basquetebol terá sempre um lugar na minha vida, seja como jogadora, treinadora ou adepta. Mas, por agora, quero continuar a jogar enquanto puder”.