As páginas que revelamos neste artigo são sobre um Gverreiro que brilhou na ilha da Madeira, mas que não trocou o samba pelo ‘bailinho’. Raul Silva, central com mais golos de cabeça da Liga NOS nos últimos 10 anos, é atualmente uma das figuras do clube arsenalista e caracteriza-se como um “carregador de piano” desde os tempos do colégio ao contar as histórias da sua carreira futebolística ao scbraga.pt.
Paixão pelo futebol desde criança: “O gosto pelo futebol começou desde criança, a minha primeira paixão foi a bola de futebol. Comecei a jogar numa escola sem objetivo nenhum, apenas para me divertir. Depois, com 16 anos, notei que tinha qualidade e fui fazer um teste a uma equipa profissional”.
A rebeldia: “Era muito rebelde quando jogava, era um pouco descontrolado… queria muito ganhar (risos). Fora do campo sempre fui muito tranquilo, agora dentro de campo desde criança sempre me meti em confusões (risos)”.
Os golos de cabeça começaram na infância: “Quando era criança brincava com os meus amigos aos “cruzamentos e cabeceamentos”. Éramos 6 pessoas a jogar, um ia a guarda-redes, outro ia cruzar e os restantes iam cabecear. Essas tardes em casa do meu amigo Charles permitiram-me desde muito novo treinar o meu gesto técnico de cabeceamento. Acredito que isso fez com que hoje deixasse a minha marca por isso”.
Carregador de piano na equipa do colégio: “Chegava sempre atrasado às aulas, perdia sempre a primeira aula e era sempre o primeiro a sair. Jogava na equipa do meu colégio, não era a estrela da equipa, já nessa altura era o carregador de piano”.
As férias escolares: “O meu passatempo preferido nas férias era jogar futebol nos campos perto da casa da minha avó. Jogava das 8 da manhã até à meia noite, a minha avó nem via a minha cara. Saía de manhã e só voltava à noite com uma bola de futebol na mão”.
Temeu pela vida com 18 anos: “A voltar para casa numa van, entraram dois casais e passados dois minutos anunciaram um assalto. Roubaram-me a mochila e tudo a todas as pessoas que estavam lá dentro, ameaçaram que nos matavam a todos se não déssemos tudo. Foram 10 minutos em que temi pela minha vida. Tinha 18 anos e nunca mais me vou esquecer”.
- Raul Silva 1.º em baixo da direita para a esquerda
Lesão colocou em equação carreira no futebol: “Nem sempre a minha família me incentivou a ser jogador de futebol. Com os meus 17 anos tive uma lesão muito grave no joelho, rompi o ligamento cruzado. Nessa altura a minha família pediu-me muito para não continuar a jogar. O coordenador da equipa onde jogava tratou da minha cirurgia e pediu-me para voltar. Foi um momento complicado em que acreditei sozinho. Felizmente consegui ultrapassar aquela situação e hoje sou jogador profissional”.
Passagem pela ala e pelo meio campo: “Tive um treinador que me obrigou a conhecer outras posições. Já joguei a defesa esquerdo e a médio centro. Gostei de jogar a defesa esquerdo, é por isso que sempre que tenho uma oportunidade para ir à linha e cruzar lá vou eu (risos). São coisas que acontecem na formação que levamos para sempre, foi muito bom conhecer outras posições”.
O pedido de um colega que irritou Raul: “Lembro-me que na minha formação existiu um jogo em que já tinha levado um cartão amarelo e um colega meu (Jorge Santos), que agora é como um irmão para mim, pediu ao treinador para me tirar do campo. Estava descontrolado, era um clássico, e lembro-me de ele gritar: “mister tire o Raul por favor, ele vai ser expulso”. Ainda fiquei muito bravo com ele por ter tido aquela atitude (risos)”.
- Raul Silva 1.º em cima da direita para a esquerda
O início da carreira no Brasil: “Comecei no Remo e no meu primeiro ano tive uma lesão grave. Mesmo depois daquela lesão fui para o Sport Recife da primeira divisão. Eles acreditavam em mim, mas disseram que tinham de me emprestar para ganhar ritmo. Fui para o Paysandu e fiz a minha melhor época no Brasil, que até me permitiu ir para o Figueirense que estava na primeira divisão. Aquele ano no Paysandu foi essencial para a minha carreira”.
Jogar na Europa sempre foi uma ambição: “Sempre tive vontade de jogar na Europa. Na altura em que vim para o Marítimo já tinha tudo acertado com o ABC para jogar na Série B do Brasil. Quando soube da oportunidade do Marítimo liguei logo para o diretor do ABC e disse-lhe que não podia desperdiçar a oportunidade de vir para a Europa”.
Do que sentiu mais falta do Brasil na Madeira: “Principalmente, senti falta da família. Também senti falta do clima e da comida. O macarrão não é igual ao do Brasil (risos). No entanto, a Madeira também tem coisas maravilhosas: o bolo do caco e a poncha são imperdíveis”.
- Raul Silva enfrentou Neymar ao serviço do Remo
As melhores recordações da ilha: “Guardo as melhores recordações da Madeira e do Marítimo. As pessoas são extraordinárias, o clube era fantástico. Infelizmente, só tenho jeito para o samba, não consegui dançar o bailinho. Tenho amigos que ‘acabavam com a sola do sapato’ e tentavam-me ensinar, mas nunca consegui (risos)”.
Empréstimo encaminhou Raul para o sucesso: “Agradeço ao presidente Carlos Pereira por me ter dado a mão muitas vezes. Aquele empréstimo ao Ceará foi das coisas melhores que me aconteceu. Percebi que me tinha de dedicar mais e que os vários puxões de orelha do presidente do Marítimo eram para me fazer crescer como profissional e como pessoa”.
A fase das expulsões no Marítimo: “Infelizmente tive uma época em que fiquei conhecido pelas expulsões. Foi muito complicado limpar essa imagem. Era uma questão de mentalidade, vi sempre o jogo desde pequeno como: ‘ou matas ou morres’. Felizmente já vejo o jogo de outra forma”.
A oportunidade de representar o SC Braga: “Lembro-me como fosse hoje, pensei que estavam a brincar comigo. Desde o primeiro ano que joguei em Portugal, achei o SC Braga um clube espetacular. Comentava com os meus amigos que um clube que eu escolhia de olhos fechados era o SC Braga. Tive outras propostas, mas nem quis ouvir, o SC Braga era um desejo meu”.
Primeiro ano no SC Braga foi o melhor da carreira: “Só faltou um título àquela equipa. Sabia tudo o que tinha de fazer de olhos fechados. A nossa equipa era só craques, eu até dizia para mim mesmo: ‘o que estou aqui a fazer?’. Ia para os jogos e já sabia que ia ganhar só não sabia quem ia fazer os golos. Graças a essa equipa consegui adaptar-me facilmente ao SC Braga. Acredito que foi o melhor ano da minha carreira”.
A brincadeira com os avançados que faziam menos golos: “Na primeira época ainda brinquei com os avançados que tinham de aprender comigo a fazer golos. Eu falava para eles: ‘só fala comigo quem tiver mais golos que eu’ (risos)”.
Promessa se o SC Braga for campeão nacional: “Prometi que se o SC Braga for campeão vou tatuar o Bom Jesus no meu corpo. Sou muito católico e, caso aconteça, vou fazer isso para agradecer a Deus e para ficar registado esse momento importante da minha carreira. Sinto que isso vai acontecer mais tarde ou mais cedo”.
A alcunha de Sid: “Porque eu sou muito bonito (risos). Foi um apelido que me deram em 2012, de uma das personagens da Idade do Gelo. Nunca entendi, mas acho a personagem muito bonita, é um bichinho muito engraçadinho, muito bonito”.
A conquista da Taça da Liga: “Era o que faltava para esta geração de jogadores. Nestes últimos três anos demos muitas alegrias aos adeptos, mas nunca tínhamos ganho nada. Ter conseguido roubar a Taça da Liga aos grandes era tudo o que ambicionávamos. Conseguimos concretizar um dos desejos do presidente para esta temporada, foi um momento especial”.
O jogo mais simbólico: “O jogo com o Sporting em casa, com um golo meu aos 90 minutos. Foi o primeiro jogo que a minha avó e a minha filha me viram a jogar na Pedreira. Nunca mais me vou esquecer”.
O momento mais complicado: “A última lesão no joelho foi muito complicada. Tive um ano muito bom e essa lesão deitou-me muito a baixo. Quero aproveitar para agradecer aos Sub-23 por me terem acolhido muito bem. Estava muito receoso se ia conseguir voltar na melhor forma. Aquele golo no primeiro jogo com eles deu-me muita força para continuar a lutar pela minha carreira”.
Referências no futebol: “Gosto muito do Sérgio Ramos. Tento sempre ver os jogos dele, é a minha maior referência”.
O jogador mais talentoso com quem já trabalhou: “Gostei muito de jogar com o Danilo do FC Porto. Ele facilita muito o jogo, a bola vem sempre boa, dá sempre opção de passe”.
Central com quem mais gostou de jogar: “Gostei muito do Maurício, com quem joguei no Marítimo. Era alguém em quem podias confiar, se algo te corresse mal no jogo ele ajudava-te. Nesse ano fomos o terceiro clube com menos golos sofridos no campeonato”.
Melhor golo da carreira: “Fiz um golo aos 90 minutos pelo Paysandu, num dérbi contra o Remo, que deu o título ao clube. O estádio estava completamente cheio, foi um momento emocionante. Tenho pena de ter sido contra o clube que me lançou no futebol”.
Ser pai: “Sou um pai muito babado, que faz o que quer com a filha. Ser pai mudou a minha vida”.
Passatempo preferido: “Gosto de jogar FIFA. Escolho sempre o SC Braga e, claro, sou eu e mais 10. Coloco o meu boneco a jogar a médio ou a avançado e sou a estrela da equipa (risos)”.
Série Preferida: “Gosto muito de Narcos e de ver documentários”.
Estilo de Música: “Sertaneja, sou um romântico tímido, confesso (risos)”.
Como gostava de ser recordado no futebol: “Gostava de ficar recordado como um jogador dedicado e que deu tudo pelos clubes onde passou. Espero que os adeptos se recordem de mim dessa maneira”.