Com apenas 17 anos, Afonso Gomes já se destaca como uma das maiores promessas do atletismo nacional. Iniciou a sua carreira desportiva na natação, no SC Braga, mas foi no atletismo que encontrou a sua verdadeira paixão. No Clube há oito anos, o jovem Gverreiro tem vindo a afirmar-se progressivamente no panorama competitivo. Recentemente, foi Vice-Campeão no Festival Olímpico da Juventude Europeia, na Macedónia, prova em que representou Portugal nos 3000 metros.

Apesar da sua idade, o atleta do SC Braga assume-se como uma referência no clube arsenalista, fruto de uma carreira marcada pela dedicação, disciplina e ambição. Nesta edição do Lado B, damos a conhecer o percurso e as motivações que alimentam a paixão deste talento em ascensão no atletismo português.

Como surgiu o atletismo: “O desporto sempre fez parte da minha vida. Comecei na natação, mas percebi que não me sentia totalmente realizado. Foi então que decidi experimentar o atletismo e, desde o primeiro treino, apercebi-me de que tinha encontrado a minha verdadeira paixão. Hoje, é muito mais do que um desporto para mim: é um estilo de vida, uma fonte de motivação diária e uma parte essencial da minha identidade”.

A primeira competição: “Foi uma prova de 1000 metros e, logo a seguir, Salto em Comprimento que na altura era a minha prova favorita. Lembro-me também de que, entre saltos, aproveitava para construir castelos de areia na caixa da pista”.

Recordações: “Guardo memórias boas e momentos menos positivos. Boas porque foi aí que tudo começou, numa fase em que experimentava várias provas, sem ainda ter uma especialidade definida. Momentos menos positivos porque, naquela altura, não sabia lidar bem com a derrota e entrava nas competições com receio. No entanto, isso acabou por ser determinante para o meu crescimento: aprendi a transformar frustrações em motivação e a encarar cada derrota como uma lição”.

O sentimento de representar o SC Braga e Portugal: “Desde pequeno que sou atleta do SC Braga, e representá-lo é um enorme orgulho, pois sempre me apoiou e acreditou em mim. Vestir a camisola da Seleção Nacional é um sentimento incomparável: é carregar o peso e o orgulho de representar Portugal, levando a nossa bandeira ao mundo. Com o vermelho e branco do SC Braga, sinto-me como um verdadeiro Gverreiro, determinado a lutar até ao último metro. Com o vermelho e verde da Seleção Nacional, sinto que levo comigo todo um país. Não corro só por mim, mas por todos os que acreditam em mim e pelo orgulho de ver Portugal no lugar mais alto”.

Ritual antes das competições “Faço uma cruz no peito para lembrar-me de que Deus está comigo e para ganhar serenidade. Depois, foco-me em respirar fundo e visualizar a prova, traçando mentalmente a minha estratégia. Para mim, a mente comanda o corpo, e entrar calmo é tão importante quanto estar fisicamente preparado”.

Momentos especiais: “Um deles foi o meu primeiro Campeonato Nacional, onde conquistei uma medalha de ouro num escalão acima do meu e ainda bati o recorde nacional. Outro foi perceber que, independentemente do resultado, tenho sempre o apoio dos meus colegas, do meu treinador e do Clube. Esse espírito de união fez-me superar fases mais difíceis”.

Balanço do percurso no Clube: “É extremamente positivo. Foram anos de evolução, conquistas e aprendizagens, mas, acima de tudo, de construção de caráter. O SC Braga e o atletismo deram-me não só oportunidades, mas também valores que levo para toda a vida”.

Maiores desafios: “Aconteceu esta última época 2024/25. Descobri, a meio da temporada, que tinha níveis baixos de ferro, o que afetou diretamente o meu rendimento. Era frustrante treinar bem e, depois, não conseguir alcançar aquilo que sabia ser capaz. No entanto, isso obrigou-me a trabalhar ainda mais a minha resiliência”.

Conquistas mais importantes até hoje: “Destacam-se três momentos: o título nacional Sub-18, com recorde nacional, numa prova em que nem imaginava subir ao pódio e onde dei um salto enorme no meu percurso; a conquista do título de Campeão Mundial Escolar nos 800 e 1500 metros, na minha primeira internacionalização, sem palavras; e o 2.º lugar no Festival Olímpico da Juventude Europeia, que considero o mais valioso pela exigência da competição e pelas dificuldades que enfrentei nessa fase. É também o mais recente e o que me traz mais recordações”.

Chave para um desempenho de topo: “Disciplina e consistência são fundamentais. É preciso confiar no processo, ter paciência e dar o máximo todos os dias, mesmo quando não apetece. Também é importante saber ouvir o corpo, respeitar os períodos de descanso e seguir a orientação do treinador”.

Gestão mental e emocional nas competições: “Participo em muitas provas e, com o tempo, aprendi a transformar a pressão em foco. Antes de uma competição importante, lembro-me de que todo o trabalho já foi feito e que o momento é para desfrutar e executar. Se algo corre mal, encaro isso como uma oportunidade de aprender e melhorar”.

Inspiração: “O Jakob Ingebrigtsen. Sigo-o há vários anos e admiro não só o talento, mas também a persistência e consistência que demonstra em todas as corridas. Ele é um exemplo de que o trabalho e a disciplina são tão importantes quanto a capacidade natural”.

Conciliar treino e estudos: “É exigente, mas com organização é possível. O apoio da minha família, do meu treinador e dos meus colegas é essencial para manter o equilíbrio. Sempre que tenho tempo livre antes do treino, aproveito para estudar. Depois dos treinos, descanso e recupero para estar pronto para o dia seguinte. Tento manter uma rotina bem estruturada para não comprometer nem o rendimento escolar, nem o desportivo. Terminei o 11.º ano e vou iniciar agora o 12.º ano”.

Principais objetivos: “A curto prazo, melhorar os meus recordes pessoais e consolidar a minha posição nas competições nacionais. A longo prazo, quero representar Portugal ao mais alto nível e conquistar resultados relevantes em campeonatos internacionais. Participar nos Jogos Olímpicos é um sonho que mantenho vivo todos os dias. Para além do atletismo, tenho outros sonhos e interesses que gostava de explorar no futuro. Por exemplo, gostava de experimentar o triatlo e, um dia, completar um Ironman. Gosto de testar os meus limites e descobrir novas formas de superação”.

Autorretrato: “Sou uma pessoa dedicada, persistente e calma. Valorizo o trabalho em equipa, a amizade e a humildade. Fora da pista, gosto de estar com amigos, explorar novos desafios e aprender sempre algo novo. Também aprecio momentos de descanso, como jogar ou simplesmente estar no meu canto a recarregar energias”.

Conselhos para quem está a começar no atletismo: “Tanto no atletismo como na vida, o objetivo não é ser perfeito, mas evoluir todos os dias. Trabalha com disciplina, compete com paixão e lembra-te: a maior vitória é dar o teu máximo para seres a tua melhor versão”.