António Salvador participou no fórum “Trio de Quatro”, emitido pelo Diário do Minho. O Presidente do SC Braga falou sobre o começo da sua presidência, das infraestruturas às quais o Clube tem ligação, entre outros temas.

Início da presidência: “Vai fazer em fevereiro 19 anos que estou na presidência do Braga. Quando cheguei ao clube, tinha 32 anos e, naturalmente, pouca gente me conhecia na cidade. Nessa altura já tinha a noção do que poderia fazer pelo clube. Nunca imaginei assumir esse cargo e foram pessoas amigas, num momento de crise do clube, tanto a nível desportivo como financeiro, que me convenceram a cumprir essa missão. Reuni uma equipa de pessoas que me pudessem acompanhar e, de uma forma autónoma, comecei a dirigir os destinos do clube, começando por resolver os problemas imediatos. Nessa altura, defini três objetivos claros: resolver os graves problemas financeiros do clube, estabilizar a equipa principal e fazer com que ela marcasse presença constante nas competições europeias – não é difícil ir lá uma vez por outra, difícil é andar por lá permanentemente, e por fim fazer com que o clube se tornasse independente. O clube não podia viver amarrado à autarquia, mas era isso que acontecia sempre. A autarquia estava sempre de mão estendida para resolver os problemas do clube. Hoje isso não é possível. E é preciso ter muito cuidado na forma como se gere a instituição porque depois não há ninguém que possa estender a mão. O clube tornou-se ainda independente em relação a determinados clubes e instituições, de modo a prosseguir o seu caminho sozinho”.

Sócios jovens: “Cinquenta por cento dos sócios do Braga tem atualmente uma média de 23 anos de idade. E esses sócios não têm seguramente ideia do que era o nosso clube antigamente. E esses sócios são muito exigentes como reflexo do crescimento do clube, mas não têm qualquer noção das dificuldades com que nos deparámos quando assumimos a direção há 19 anos. Esta estabilidade no clube deve ser contínua, só assim o clube pode continuar a crescer, tanto a nível de resultados como a nível de estruturas”.

Um clube diferente: “Uma das grandes vitórias dos braguistas é que o clube se tornou independente em relação aos ditos clubes grandes. Nós não queremos ser mais um grande, queremos ser um clube diferente. Queremos ser um clube que marca por ter muito menos do que os outros e que pensa e decide por si, sem estar dependente desses três clubes ou da Câmara Municipal de Braga. E mesmo que agora quiséssemos isso (ligação com a Câmara), já não seria possível porque a lei já não permite. Sim, mantemos uma boa relação; sim, o clube é o maior embaixador da cidade e da região do Minho e, naturalmente, tem de haver uma grande ligação com o município e com outras forças vivas da cidade. É esse caminho que temos vindo a fazer”.

G-15: “Aquele famoso G-15, formado por determinados clubes e encabeçado pelo Braga, foi uma ideia que saiu muito do nosso clube. Partiu de conversas nossas com os outros clubes ditos não grandes. Aquilo serviu para alertar as instituições que dirigem o futebol que no campeonato português não existem só três clubes. Existem os outros todos que estão abaixo. Era preciso fazer sentir isso e agora estamos noutra luta, respeitante à repartição das verbas respeitantes à publicidade e aos direitos de transmissão. Fizemos ver que esses três grandes não conseguem realizar um campeonato sem os outros clubes, não conseguem sobreviver. Essa luta que travámos durou cerca de três anos e ficou marcada na história do futebol português. Todas as propostas que esse G-15 levou a sede própria foram aprovadas. Houve muita pressão. Os sócios do Braga devem orgulhar-se do seu clube porque alguns clubes tiveram dificuldade em juntar-se a nós, sofrendo ameaças e outras situações relacionadas com empréstimos de jogadores. Felizmente os clubes perceberam, de uma vez por todas, que só poderiam dar um passo em frente juntando-se nessa luta. É esse o caminho que continuamos a trilhar. Como já foi anunciado, em breve entrará em vigor a centralização de dois direitos televisivos e terá de haver maior justiça na repartição das verbas, de modo a haver maior equilíbrio competitivo entre os clubes, como se verifica nos cinco maiores campeonatos da Europa”.

Conquista do título nacional: “Continuo a dizer que o Braga será campeão pela qualidade que irá acrescentar no campeonato e não pelo investimento. Quando o Braga quiser ser campeão à força, por investimento, vai ter problemas a seguir, mas isso não acontecer enquanto eu for presidente do Braga. Não vou deixar que isso aconteça. Tivemos exemplos disso em Portugal. Com o atual modelo de receitas, não é possível que um clube seja campeão à força do investimento porque depois surgem problemas financeiros. Com a centralização dos direitos televisivos, com um outro modelo de receitas que pode ter no futuro e que não terá se continuar naquele estádio, com mais eficiência e melhor gestão desportiva pode-se lá chegar. O Braga há de ser campeão, mas como disse sê-lo-á com uma gestão contínua e rigorosa e por ambição e nunca por injeção de dinheiro – se queremos ser campeões à força será a morte do Braga. Estivemos perto para ser campeões e não o fomos porque não nos deixaram ser, era merecido ser campeão em 2010, foi a melhor equipa do campeonato. O Braga tem de estar muito bem e os outros três estarem mal para acontecer. Raramente estão os três ao mesmo tempo. Trabalho todos os dias pelo clube tenho um só amor, o Braga e peço que nos continuem a apoiar, porque está a criar bases sustentáveis para um dia ser campeão”.

Cidade Desportiva: “É um dos maiores projetos de sempre do clube. Quando assumi a presidência, o Braga não tinha património e atualmente tem. A Cidade Desportiva é conhecida em Portugal e até internacionalmente, sendo inclusivamente uma referência para a UEFA. A UEFA considerou que é um dos melhores projetos para a formação de atletas. Esse setor começou a trabalhar lá há quatro anos e já tem dado muitos frutos, com vários atletas nas seleções e a serem preparados para a equipa principal. Lideramos praticamente em todos os escalões, temos uma das equipas B mais novas no país, assim como os sub-23, com uma média de idades de 18,6 anos. A segunda fase da Academia é outro projeto de futuro, com a construção de um pavilhão com uma área administrativa e uma residencial. Essa obra ficará concluída ainda este ano e contamos mudar-nos para lá ainda em setembro. Não contámos com qualquer ajuda da autarquia ou do estado. Tratou-se de um investimento, será o clube a pagar a obra”.

Estádio Municipal: “É um estádio que não é funcional para o futebol. Dá a conhecer Braga no Mundo, porque é uma obra de arte, as pessoas que tinham de decidir, decidiram por essa vertente, mas o que é certo é que é um estádio deslocado do centro da cidade, que não tem nenhumas condições de rentabilidade comercial, e hoje o futebol, além do jogo, tem uma vertente antes do jogo que deve ser explorado pelas famílias. Isso é um entrave ao crescimento do nosso clube. (…) Hoje, o Braga honra os seus compromissos perante o Estado e profissionais, mas aquele estádio não serve. Os tempos são outros, as coisas mudam, e mesmo para os nossos parceiros o estádio não serve e temos de conviver com aquilo. É uma estagnação a crescimento de receitas que precisamos. Quando as pessoas dizem ‘o Braga tem de ser campeão’ é preciso perceber que o Braga tem receita do seu orçamento daquele estádio cerca de dois milhões de euros. E o dinheiro dos sócios nem sequer vai para o futebol, fica 100 por cento no clube, nas modalidades. (…) Tudo o que se construiu aqui foi o clube a pagar. Por isso, era importante voltar ao 1.º de Maio, era um projeto importante para o clube, um projeto da cidade e para a cidade e não só para servir o clube.”

Estádio 1.º de Maio: “Se as principais instituições da cidade não estiverem em sintonia, nada se pode fazer. Só avançámos com uma alternativa porque o presidente da Câmara disse que ia vender o Estádio Municipal. É preciso perceber que temos um contrato até 2030, e se até lá, como disse o presidente, respeita o compromisso, depois teria de negociar com o novo dono do estádio. O Braga não pode correr o risco de chegar daqui a oito anos e não saber o que vai acontecer. Tendo o Braga três mil atletas, o clube tem de perceber o que vai acontecer depois de finalizado o contrato.”

O projeto do Estádio 1.º de Maio: “Arranjámos uma solução ao município, em 2020, para remodelar o 1.º de Maio, reduzir a lotação para 20 mil lugares, num estádio moderno e funcional no qual seriam mantidas as fachadas, um estádio não só para um jogo mas para todos os dias, para o lazer e cultura. Se o poder político em conjugação com o Braga avançasse, não tenho dúvidas de que seria a obra maior dos últimos 20 anos para a cidade de Braga. O projeto que apresentámos é para as pessoas. Contratámos um dos melhores gabinetes na área de conservação para fazer estudo sobre o estádio e uma consultora inglesa e uma das primeiras coisas que os arquitetos disseram é que, sendo isto património nacional, a fachada era intocável. Nós conseguíamos encaixar lá dentro um estádio moderno e confortável dentro do perímetro sem mexer na fachada.”

Relação com Ricardo Rio: “Tem sido cordial e temos trabalhado em conjunto. Agora, há convergências em que nem sempre podemos estar de acordo. No que precisou para construir cidade desportiva a autarquia estava presente. O Braga é chacota de outros clubes e adeptos que dizem que o Braga vive à custa da Câmara. Isso não é verdade. O Braga conseguiu a sua independência, seguiu o seu caminho sem ser à custa do município. Quando diz que quer um estádio funcional para servir a cidade, os sócios e famílias, o Braga tem todo o direito de o querer, porque é uma instituição com 101 anos de história. O senhor presidente [da Câmara] disse que queria vender o Estádio Municipal porque não aguentava os custos e o que pagava pela construção do estádio. Tanto quanto sei o pagamento até termina agora. Disse que o estádio tinha custo anuais de 250/300 mil euros de manutenção. O Braga tem mais um milhão de euros de manutenção, porque paga a luz, mantém a relva, paga toda a área de remodelação. O que a Câmara faz é a conservação geral. Aquele estádio vai fazer 20 anos. Ou a Câmara toma medidas de conservação naquele estádio ou em breve nós vamos ter um segundo estádio 1.º de Maio.”