Eduardo é um nome que ficará eternamente gravado na história dos grandes guarda-redes do SC Braga. O camisola 82 é um homem com identidade 100% Gverreira e um exemplo de dedicação e paixão com a camisola vermelha e branca. Em entrevista ao scbraga.pt, Eduardo abriu o livro da sua carreira, fez-nos algumas revelações e contou-nos curiosidades que não poderás perder neste artigo.

O início da carreira: “Comecei a jogar na escola muito novo. Um amigo meu, o Rui Borges, precisava de um guarda-redes no Mirandela para os infantis. Ele levou-me para o clube, tinha um bocado de jeito, e pronto foi lá que tudo começou”.

A opção pela baliza: “Já era guarda-redes quando jogava contra os meus irmãos. Sempre quis ir à baliza, mas sinceramente também nunca tive grande apetência para ser jogador de campo (risos). Sempre fui guarda-redes, nunca precisei que me mandassem para lá, eu oferecia-me”.

Recordações de uma infância no campo: “Os meus pais eram agricultores, cresci numa quinta e ajudava-os. Tinha de vir da escola rápido para ajudar o meu pai na quinta. Ele era muito rigoroso, tinha de cumprir à risca. Adorava ir apanhar cerejas, que é o meu fruto preferido. Tenho muitas saudades desse tempo”.

José Rocha como um pai no futebol:  “Significa tudo para mim. Não tinha meio de transporte para ir para os treinos e esse senhor levava-me, deu-me as minhas primeiras luvas, deu-me tudo. Levou-me a vários clubes para ir treinar, inclusive ao SC Braga. O meu pai faleceu muito cedo e esse senhor foi um segundo pai para mim, ele abriu-me as portas do futebol”.

O primeiro dia no SC Braga após representar o rival: “Foi complicado. Eu vinha do Vitória SC e, no primeiro dia que fui  treinar, o Vítor Santos (Coordenador da Formação do SC Braga) perguntou-me qual era o meu clube anterior e disse: ‘Ui, nós ficamos com os dispensados dos outros?’ Fiquei apreensivo, mas felizmente consegui fazer uma carreira aqui”.

A alcunha de bicho: “Algumas pessoas chamam-me bicho pela forma como trabalho, como me empenho e muitas vezes como me chateio. Não gosto de perder nas peladas e sou um bocado chato, confesso (risos). A verdade é que eles também me picam para ficar chateado, mas pronto depois tudo passa”.

A experiência no estrangeiro: “O Genoa foi a minha primeira experiência internacional, num grande clube italiano. Depois fui para o Istambul BB, para um campeonato diferente e exigente. Estive no Dínamo Zagreb, onde fiz a minha estreia na Liga dos Campeões. Estive no Chelsea, que é um dos melhores clubes do mundo. Antes de voltar a Braga estive no Vitesse, um clube da primeira divisão da Holanda onde fui muito feliz. Sinto-me um felizardo por ter passado por esses países e por esses clubes.”

Do que sentiu mais falta no estrangeiro: “Na minha vida, quando estive fora, estive quase sempre sozinho. Foi muito duro. Na Turquia tinha dificuldade com a língua, foi muito difícil, muitas vezes tinha que ligar o tradutor quando ia a um restaurante. Acima de tudo, estar longe da minha família foi o mais complicado”.

País em que sentiu mais pressão do público: “Itália, sem dúvida. O Genoa tem uma massa adepta fabulosa, exigente e que fazia uma pressão enorme”.

Os treinadores que marcaram a sua carreira: “Gostei muito de trabalhar com o Jorge Vital e com o Spinelli, que é uma referência mundial em termos de treinadores de guarda-redes. Depois, como treinadores principais, gostei do Domingos, do Conte, do Balardini, do Carlos Carvalhal e do Jorge Jesus. Tive a felicidade de trabalhar com grandes treinadores”.

O treinador mais exigente: “O Jorge Jesus era o mais exigente. Ele é muito explosivo, detesta ver os jogadores errar e reage no momento. Eu não me posso queixar porque também sou um bocado assim”.

Os melhores momentos da carreira: “O meu melhor momento foi em 2010, fiz um segundo lugar no SC Braga e fui ao Mundial da África do Sul. Também fiz uma época brilhante na última temporada no Dínamo Zagreb”. 

A eliminatória com duas das suas melhores exibições: “Tive uma eliminatória com o Dínamo Zagreb frente ao Salzburg que nos qualificou para a Liga dos Campeões. Acho que fiz duas grandes exibições com grandes defesas”.

O golo em que foi mais mal batido: “O PSG aqui em casa, em que perdemos 1-0. Estávamos a fazer uma grande época a nível internacional, tínhamos ganho a Taça Intertoto. Falhei um cruzamento e sofremos um golo aos 70 e tal minutos, que nos custou a eliminatória”.

Os jogos que mais lhe custou perder: “O jogo frente à Espanha marca a minha carreira (oitavos-de-final do Mundial 2010). Lembro-me de outro jogo pelo SC Braga que perdemos 5-1 no Dragão (época 2009/2010), que me custou muito perder. Acredito que se ganhássemos aquele jogo podíamos ter conquistado o título”.

O encontro de apuramento da Seleção Nacional na Bósnia: “Lembro-me que no dia anterior os adeptos da Bósnia fizeram a festa à porta do nosso hotel para nós não descansarmos. Do hotel para o estádio, a polícia tirava os adeptos da Bósnia da frente do autocarro, nunca tinha visto algo assim. Depois chegámos ao estádio e vimos 6000 pessoas num estádio com lotação de 5000. Tínhamos ganho 1-0 em casa e depois aquele jogo era completamente decisivo. Estávamos com uma fé e com uma vontade de ganhar inacreditável, acredito que acontecesse o que acontecesse nunca iríamos perder aquele jogo”.

A conquista do Campeonato da Europa: “É algo que fica na memória de qualquer jogador. Nunca mais me vou esquecer da forma como todos acreditávamos. Depois do jogo com a Croácia, sentimos que aquele título ia ser nosso. A maneira como convivíamos uns com os outros no dia a dia, notava-se confiança. Sentíamos que a vitória era de todos”.

Passatempo no estágio do Euro: “Jogava sueca com o Cedric. Gosto muito de jogar e era uma maneira de passar o tempo. O Cedric estava um bocado em baixo de forma, mas ainda ganhámos umas vezes”.

Da piscina para o avião na Madeira: “Lutámos pelo título até à última jornada. Não o conquistámos, mas fizemos história ao apurarmo-nos para a Liga dos Campeões. Após o último jogo frente ao CD Nacional, fomos de autocarro para o hotel e disseram-nos que o voo de regresso tinha sido suspenso. Fomos para a piscina todos contentes, mas de um momento para o outro dizem que afinal íamos regressar a Braga. Fomos para o avião todos molhados, foi um momento engraçado”.

A crítica da imprensa: “Em certas alturas foi difícil lidar com a crítica da imprensa. Um avançado falha um golo e não é uma capa de jornal, o guarda-redes sofre um frango e é capa de jornal. A minha opinião é que os guarda-redes que têm uma maior estabilidade emocional conseguem ter uma carreira melhor”.

O ponto mais forte e o mais fraco na baliza: “Acho que o meu ponto mais forte é o um contra um e o meu ponto mais fraco é o meu jogo aéreo”.

Os jogadores mais talentosos com quem trabalhou: “Cristiano Ronaldo, Hazard e o Fabregas. O Fabregas impressionou-me a nível de passe e pela sua inteligência, é fantástico”.

O defesa central com quem mais gostou de jogar: “Tive a felicidade de jogar com grandes centrais. O Moisés marcou-me muito porque era daqueles jogadores que ia para o treino cheio de dores, mas chegava ao jogo e dava tudo o que tinha, era contagiante. Foi um prazer ter jogado com ele”.

A sua maior referência: “Buffon é sem dúvida a minha grande referência. Quando fui para Itália disse ao meu treinador de guarda-redes, Spinelli, que adorava ter uma camisola do Buffon. Nos dois jogos que tive contra a Juventus ele não jogou e não consegui falar com ele. No último jogo que fiz em Itália, um senhor veio trazer-me uma camisola dele com uma dedicatória. Foi um gesto que me marcou muito e que me fez pensar que as pessoas, independentemente do nível que alcançam, nunca deixam de ser grandes seres humanos”.

O desejo de treinar guarda-redes no futuro: “Gostava de ser treinador de guarda-redes no futuro. Trabalhei com treinadores de grande nível, que me deram muitas bases. O trabalho com os guarda-redes é algo que eu adoro e gostava de me dedicar a isso quando acabar a minha carreira”.

Como pensa que ficará a ser recordado quando acabar a carreira: “Como alguém que trabalhou muito, que sonhou muito e que atingiu quase tudo aquilo que pretendia. Gostava que me recordassem como uma pessoa simples e que lutou pelos seu sonhos”.