Dezembro de 2020! À noite, depois de um dia de treino como tantos outros, Diogo Casimiro descansava no sofá enquanto assistia televisão quando notou que tinha um talo na zona do pescoço. Na manhã seguinte, ao chegar à Cidade Desportiva para mais um treino da equipa B, falou com um médico do Clube sobre o que tinha reparado e no mesmo dia realizou uma série de exames para perceber do que se tratava. O resultado chegou e a 31 de dezembro, na véspera de ano novo, o jogador não estava sequer perto de imaginar o que ia ouvir.
“Aquele momento, aquela notícia são uma coisa má que nunca me vou esquecer. Receber a notícia que se tem um cancro é como nos tirarem o tapete dos pés. É horrível! Começamos a pensar que temos o Mundo contra nós. Nunca se está à espera de uma notícia dessas”, afirma o lateral-direito.
Diogo Casimiro foi diagnosticado com um linfoma de Hodgkin e a vida estagnou. Do dia a dia no relvado e no balneário e com o objetivo de singrar no futebol, o lateral-direito viu o seu quotidiano mudar-se para um ambiente hospitalar com o intuito de lutar pela vida. “Na minha primeira sessão de quimioterapia vi uma senhora, provavelmente da idade da minha avó, a chorar ao meu lado e a dizer que já não aguentava mais”, recorda com angústia.
“Mas lidei sempre de uma forma positiva com os tratamentos. Sinceramente, no início as pessoas nem notavam que estava a fazê-los porque não estavam a ter grandes consequências visíveis. Cheguei a ir fazer tratamentos e no mesmo dia ir ver o jogo da minha equipa, mas com o passar do tempo as pessoas aperceberam-se”.
Infeção levou-o a estar em coma durante quatro dias
Diogo Casimiro estava determinado e com uma elevada dose de otimismo ultrapassou obstáculos inimagináveis. “Quando iniciei os tratamentos falava-se que seriam quatro sessões de quimioterapia, depois tive uma recaída e passou a mais quatro. Mais tarde estive nos Cuidados Intensivos. Tive uma infeção e foi o irmão da minha namorada que deu comigo em casa desmaiado num estado crítico. Chamou os bombeiros, tive que ser operado de urgência e colocaram-me em coma induzido. Foram quatro dias. Não me lembro de nada e quando estive nos Cuidados Intensivos pouca gente soube”.
“Foi uma situação muito complicada que felizmente acabou por correr bem. Os momentos em que tinha que ir fazer quimioterapia sozinho, porque por causa da Covid não podia ter acompanhante, custavam muito. Aquelas duas horas de espera faziam-nos pensar em tudo. Em alguns momentos pensei que estava farto de estar constantemente no hospital, mas nunca deixei que isso fosse superior à minha vontade de ficar curado. Tive recaídas e tive que repetir os tratamentos várias vezes, mas no fundo pensava sempre que ia vencer. Sou uma pessoa positiva e tentei sempre levar o tratamento como um treino. Tive esse exemplo, na altura, quando falei com o Tengarrinha e com o Nuno Pinto, que me disseram para encarar a situação como se fosse um treino ou um jogo”, lembra.
O autotransplante como fase fundamental
Com autêntico espírito Gverreiro, Diogo Casimiro passou para a fase seguinte da recuperação. “O autotransplante foi complicado, mas sabia que era como se fosse o finalizar da etapa desta luta. Foram três semanas no hospital em que na primeira estive a fazer tratamentos muito agressivos de quimioterapia. Na semana a seguir as minhas defesas baixaram e os valores foram para zero. Depois começaram as transfusões de plaquetas e de sangue. Essa é uma parte mais chata porque já estamos há duas semanas no hospital e queremos ir embora. Contudo, é algo que não depende de nós, mas sim da reação do nosso corpo e da velocidade com que ele volta a ganhar defesas”.
No fundo, é uma espécie de segunda vida para o jogador. “Comecei agora a tomar a primeira vacina da COVID e vou ter que tomar as vacinas que normalmente tomámos em crianças. Faz parte do processo. Na brincadeira costumo dizer que agora tenho duas datas de nascimento: a minha e a do autotransplante. É uma forma de levar as coisas de uma forma mais leve”, brinca.
Felizmente, o trajeto longo e difícil correu bem e Diogo Casimiro está de volta. Integrado na equipa B do SC Braga, foi no estágio de pré-temporada, a 12 de julho, que ouviu o que tanto esperava. “Recebi a notícia de que podia voltar a treinar normalmente. Partilhei essa felicidade com a minha equipa e todos os meus companheiros mostraram grande felicidade pelo meu regresso. Gostei muito da forma como partilharam a minha alegria e estou-lhes agradecido porque senti mesmo que foi genuíno”, sublinha.
Renovação de contrato com o SC Braga até 2023
Agora é tempo de desfrutar. “As pessoas estão admiradas pela forma como estou a encarar os treinos e como estou fisicamente. Estão a gostar muito de mim e espero continuar a melhorar. Claro que estou a treinar ao meu ritmo, não ao dos meus companheiros, e agora aos poucos espero melhorar e conseguir jogar”.
Para trás fica uma lição de vida, uma história de superação e a certeza de que nunca esteve sozinho nesta batalha. “Tive um apoio excecional do SC Braga. As pessoas deram-me tudo e a única preocupação foi sempre a de eu ficar bem e concentrar-me na minha saúde. O facto de ter renovado duas vezes o meu contrato é um exemplo disso. No ano passado, no momento em que tive uma recaída, o Clube renovou contrato comigo. Agora voltou a fazê-lo e estou pronto para a luta. Hoje voltei a fazer parte da equipa, a estar no balneário e estou feliz”, sublinha.
“Só tenho a agradecer do fundo do coração o apoio que senti de toda a estrutura do Clube. E ter uma boa estrutura familiar também foi muito importante. A minha namorada foi incansável. Deixou de trabalhar para me levar e trazer dos tratamentos, esteve todos os dias comigo e, tal como o SC Braga, nunca deixou que me faltasse nada. Ela, a família dela e os meus pais tiveram uma importância imensa em todo este processo. Pensei sempre que tinha de ganhar esta batalha por mim e pelas pessoas que estiveram sempre a meu lado e que sofreram com a situação. Agora é o momento de agradecer-lhes tudo o que fizeram por mim”, finaliza.