Portland é conhecida como a Cidade das Rosas. No entanto, em junho de 1999, a maior cidade do estado de Oregon também viu crescer um diamante em bruto, que mais tarde se iria tornar uma das pedras mais preciosas da Liga BPI.
Ellie Delane Walker nasceu para ser uma atleta, a única dúvida era descobrir de que modalidade. “Eu fiz imensos desportos quando era mais nova, experimentei de tudo: futebol, basquetebol, voleibol, softball, atletismo…”. Entre todas, destaque para o futebol e o atletismo que, apesar de distintas, em parte complementavam-se. “Adorava as duas por serem diferentes. Atletismo era individual mas também competíamos por equipas”, refere.
Mas há memórias que não se apagam e muitas delas são com uma bola nos pés. “Comecei a jogar com três anos de idade, num campo indoor perto de casa. Penso que o meu interesse no desporto também surgiu por ver o meu irmão mais velho, porque o via a jogar e também queria”, destaca.
Num país que oferece todas e mais algumas possibilidades, Ellie percebeu cedo que o desporto iria ter um grande impacto na sua vida profissional. “Nos meus anos de High School [equivalente ao ensino secundário em Portugal] comecei a dedicar-me mais seriamente no futebol e ingressei no FC Portland, que competia na liga mais alta possível para jovens jogadores”. Era nestes torneios que os treinadores procuravam captar os novos talentos e claro, Ellie destacou-se e surgiu uma grande oportunidade: jogar futebol universitário na Universidade de Portland. “A minha casa era muito perto da universidade e, na minha adolescência, eu ia aos jogos e sempre quis fazer parte daquilo”.
O desporto universitário é uma verdadeira máquina de criação de prodígios no sistema de ensino americano, onde é possível complementar os estudos com uma vida quase profissional de atleta. Ellie Walker também se destacava fora de campo, tendo estudado biologia e ainda alcançou um diploma em Ciência Política. O plano B estava bem encaminhado, mas o foco era um: o futebol.
Quem vê Ellie a destacar-se nos campos do nosso jardim à beira-mar plantado, pensa que nasceu para ser uma defesa central. No entanto, a história é outra. A americana evidenciou-se a defender as avançadas… em Portugal. “No High School jogava a avançada ou extrema. Na universidade, fui recrutada para lateral e joguei assim praticamente sempre nesse percurso. Dependendo do sistema, também podia jogar a central. No meu primeiro ano em Portugal, a equipa [SCU Torreense] precisava de mais centrais e tendo em conta as minhas características como jogadora e a minha altura, tornei-me uma defesa central”, explica.
Por falar em Portugal, como é que surgiu na vida da americana? A própria explica. “Quando terminei o curso na universidade, tinha várias ex-colegas que jogavam no estrangeiro, apesar de não ter muito conhecimento sobre essas oportunidades fora dos Estados Unidos. O meu agente na altura tinha ligações com clubes em Portugal e quanto mais analisava a Liga BPI e o seu crescimento, mais interessada ficava”. A escolha foi acertada.
Na primeira época em Portugal, no SCU Torreense, já foi possível sentir as diferenças entre o soccer e o futebol português. “É um estilo de jogo diferente. É mais técnico aqui, o jogo é mais lateral do que vertical. O jogo também é técnico nos Estados Unidos, mas há também grande influência do aspeto físico”, afirma Ellie, que destaca que melhorou imenso a nível técnico desde a sua chegada à Europa. De facto, a primeira época superou as expectativas: foi a jogadora com mais jogos realizados pela equipa de Torres Vedras. Na segunda temporada, voltou a repetir a marca e tornou-se a segunda jogadora a chegar aos 50 jogos pela equipa do Oeste. Destaque ainda para o registo de três golos, o último deles tendo sido no seu último jogo pelo Torreense… E contra o SC Braga.
Um passo importante, mas que era já um objetivo. “No primeiro ano em Portugal, passei grande parte do tempo a adaptar-me ao estilo de jogo, enquanto que no segundo já me sentia competente a batalhar com as melhores jogadoras e a deixar a minha marca na Liga BPI“. Em Braga, Ellie encontrou um novo lar… e uma nova “família”. “A equipa e o staff foram muito acolhedores. Todo o grupo está cheio de personalidade e isso faz de nós uma grande equipa. Conheci pessoas incríveis até ao momento”, confidencia. Dentro de campo, Ellie tem sido uma das jogadoras mais utilizadas por Miguel Santos, tendo-se destacado pelo jogo aéreo, forte competência no setor defensivo e nunca abdica de uma aproximação à baliza adversária.
Portugal tem sido uma caixa de surpresas (positivas) para a jovem de Portland, mas há um momento que marca a passagem pela cidade dos Arcebispos. “O jogo de inauguração do novo estádio contra o Paris Saint-Germain é algo que nunca vou esquecer. Foi uma “amostra” de jogar contra as melhores equipas da Europa, algo que queremos fazer no próximo ano com o acesso à Liga dos Campeões”. Para lá do jogo, Ellie enaltece a vontade do clube de construir uma infraestrutura única. “Vemos perfeitamente a intenção do Clube em olhar para o futuro do nosso futebol feminino”. Quanto a esse futuro, a defesa central não tem dúvidas do que quer. “Quero continuar a descobrir o meu potencial como jogadora e jogar no nível mais alto que conseguir”.
Nós estaremos aqui para assistir e construiremos esse futuro, lado a lado. É bom ter-te connosco, Ellie.