Sara Rocha, atleta do SC Braga, protagonizou um feito histórico no bilhar nacional ao conquistar quatro títulos em apenas quatro dias, numa impressionante demonstração de consistência, talento e determinação.

A atleta bracarense sagrou-se Campeã Nacional, venceu a Taça de Portugal e ainda brilhou nas duas competições por equipas, levando o SC Braga ao topo do pódio e consolidando a sua posição como uma das grandes referências da modalidade em Portugal.

Este desempenho extraordinário não só reflete anos de trabalho árduo e preparação minuciosa — física e mental — como também reforça o espírito de excelência que caracteriza os atletas do SC Braga. Com os olhos postos no Campeonato do Mundo, Sara continua a elevar o nome do clube além-fronteiras, com a mesma ambição que a levou a escrever uma das páginas mais brilhantes do bilhar português.

Sensações: “Ainda estou a digerir tudo. Foram dias muito intensos, física e mentalmente. Competi em várias frentes, individual e por equipas, e cada partida exigia um foco absoluto. Todas as partidas eram decisivas e importantes. No final senti-me exausta mas também muito feliz pois tinha cumprido todos os meus objetivos. Quando se dá tudo o que se tem, o cansaço transforma-se em satisfação. Foram quatro dias que demonstraram a consistência e o trabalho que tenho vindo a desenvolver há muito tempo”.

Momento mais importante: “Houve vários momentos tensos, mas um dos jogos do Campeonato Nacional por equipas destacou-se. Acabei por vencer 6-5 num jogo muito equilibrado, o que exigiu muita gestão emocional. Senti o peso da responsabilidade mas também uma enorme vontade de vencer, pois esse jogo dava o título de Campeãs Nacionais à equipa”.

Título: “Todos eles tiveram um sabor especial, fosse pela revalidação ou conquista de um novo título. Mas se tivesse de indicar um, diria o título individual do Campeonato Nacional. É o momento em que tudo depende apenas de mim, do meu foco, da minha entrega. Esta vitória representou a superação pessoal e o reflexo de muito treino e sacrifício silencioso.

Lado Mental: O controlo mental é algo que levo muito a sério. E o trabalho que fiz com a Inês Vigário, psicóloga do desporto, durante três anos deu-me ferramentas que utilizo constantemente e que vou melhorando todos os dias. Faço preparação mental com técnicas de visualização e respiração, entre muitas outras. E tenho rituais simples que me ajudam a manter o foco, como organizar o material de bilhar sempre da mesma forma. Além disso, pratico pilates, o que me ajuda a ter mais consciência corporal e a libertar tensões acumuladas ao longo das competições”.

Início da carreira: “Comecei a jogar bilhar com o meu pai. Era algo que partilhávamos e que foi crescendo como uma paixão comum. No entanto, só aos 25 anos descobri que existia competição feminina em Portugal. Foi então que entrei na Academia de Bilhar de Braga e conheci o Manuel Costa, que me incentivou a integrar uma equipa feminina e me ensinou muito do que sei hoje. Foi aí que percebi que queria levar o bilhar a sério”.

Ídolo: “O meu grande ídolo é o Ronnie O’Sullivan. A forma como joga, o talento natural, a velocidade e a ousadia, são características que admiro profundamente. Inspira-me a arriscar, mas também a procurar sempre a excelência”.

Desporto associado ao género masculino: “No início não foi fácil. O bilhar ainda era muito associado ao universo masculino e a maus hábitos e senti, como muitas mulheres, o peso de certos estigmas. Mas nunca me deixei influenciar por isso, foquei-me sempre naquilo que queria construir. Hoje, vejo uma mudança positiva: há mais equipas femininas, mais atletas a competir e mais respeito pelo nosso trabalho. Ainda há muito a fazer, mas estamos no caminho certo”.

Lições do bilhar: “Sem dúvida. O bilhar ensinou-me a ser resiliente e paciente. A lidar com a pressão, a aceitar o erro e a aprender com ele. Também me mostrou a importância da concentração e da disciplina, coisas que levo comigo para tudo na vida, seja no trabalho, nas relações ou na forma como lido com desafios”.

Próximos objetivos: “O meu grande objetivo neste momento é ser Campeã do Mundo. É para isso que estou a trabalhar com total dedicação. Em junho, estarei em Ljubljana durante 10 dias com o meu treinador Mitja Gradisnik, num estágio intensivo de preparação. Logo a seguir, participo no Eurotour da Áustria (14 e 15 de junho) e depois sigo para os Estados Unidos, onde vou disputar o Campeonato do Mundo de 2 a 7 de julho, em Wisconsin”.

Crescimento do bilhar em Portugal: “Vejo sinais positivos, principalmente na vertente feminina. Portugal é, curiosamente, o único país da Europa com competição de equipas femininas, e nesta época tivemos 15 equipas inscritas, o que é notável. No entanto, ainda falta formação de base. Em muitos países o bilhar já faz parte do desporto escolar, com atletas a começarem muito jovens, apoiadas por treinadores com métodos modernos. Em Portugal, temos talento, mas precisamos de estruturas de apoio, formação contínua e mais oportunidades de prática desde cedo”.

Alto rendimento em Portugal: “Criaria um sistema de apoio mais sólido para os atletas de alto rendimento, especialmente em modalidades menos mediáticas como o bilhar. Faltam apoios financeiros, melhores condições para treinar, incentivos para representar o país e reconhecimento do esforço que colocamos no que fazemos. O talento existe, só precisa de ser valorizado e potenciado”.

Mensagem para as jovens atletas: “Procurem um clube perto de casa, encontrem um bom instrutor e comecem. O bilhar é mais do que um desporto — desenvolve a concentração, o raciocínio e até melhora o rendimento escolar. E é divertido! Trabalhar com bolas coloridas e descobrir como cada jogada pode ser um desafio novo torna tudo mais apaixonante”.

EXTRA – RÁPIDAS

Uma superstição antes de jogar: Entro sempre com o pé direito na sala de competição.

Músicas que ouve para se motivar: Depende do dia, mas gosto de músicas com ritmo forte, desde Queen a Muse.

Um lugar onde gostaria de competir: Japão. Pela cultura, pela ligação ao bilhar e pela experiência única que seria.

Uma adversária que admira: Admiro muitos, mas destaco o talento da Jasmin Ouschan.

Se não fosse bilhar, seria: Dança. Pratiquei dança durante muitos anos e era uma grande paixão. Mas quando comecei a dedicar-me ao bilhar, tive de fazer uma escolha, e optei por este desporto, que hoje me realiza profundamente e me faz muito feliz.