Sócio desde o dia em que nasceu e já com 15 anos ao serviço ao SC Braga, Pedro Pires é um dos elementos do clube com mais tempo de casa. O treinador dos Sub-17 foi o escolhido para dar continuidade ao trabalho inicialmente desenvolvido por Custódio em 2019/20, assumindo, desde o passado mês de março, a liderança de uma equipa recheada de talento.

Em entrevista ao Planeta Braga, o técnico regressa ao passado, recorda as chegadas de Pedro Neto e Trincão ao emblema arsenalista e garante que há muitos outros jogadores com capacidade para rumar até à equipa principal.

 

 

Pedro Pires assume liderança dos Sub-17 3

 

 

Temos exemplos recentes de sucesso que têm o teu cunho pessoal. Vamos começar pela história do Pedro Neto?

Obtivemos a informação de um jogador que jogava numa Academia de Viana do Castelo e que tinha potencial acima da média. Na altura fui com o José Carvalho Araújo ao campo da Torre, em Viana, e realmente era um miúdo diferenciado. Na observação destas idades não podemos tirar uma análise num só jogo, mas aquele deu-nos água na boca de que poderia estar ali um atleta de eleição. Uma semana depois, não sei precisar, fui outra vez vê-lo a Ponte de Lima, num jogo da AD Limianos, e ele correspondeu às expectativas que tínhamos. Falei logo com os pais dele no sentido de vir para o nosso clube, o que veio a concretizar-se no verão desse ano.

 

Quando viste a saída do Pedro Neto, sentiste que valeu a pena teres ido a Ponte de Lima?

Nós somos funcionários do clube e tentámos trabalhar da melhor forma, o Neto foi um dos casos que despontou, há agora o Trincão e haverá certamente outros num futuro próximo.

 

O Trincão também tem uma história peculiar, ajudaste a desbloquear um problema logístico…

O Francisco Trincão veio prestar provas ao SC Braga e, logo no primeiro treino, deu para ver que era um miúdo com uma qualidade individual acima da média. Referenciamos o Francisco nesse mesmo momento, era do nosso interesse que fosse nosso atleta no ano seguinte. Perdi-lhe o rasto, mas depois parece que há coisas divinas… Encontrei o pai por acaso num Torneio Internacional de Ponte de Lima, onde o SC Braga participou, ele estava a participar pela seleção da Associação de Futebol de Viana. Perguntei ao pai pelo miúdo, disse que o queríamos na próxima época. Ele era de Viana, o Braga naqueles escalões não tem transporte para esses miúdos, procurei convencê-lo e consegui que ele viesse e fizesse parte dos nossos quadros.

 

Pedro Pires assume liderança dos Sub-17 2

 

Na altura já acarinhava a bola de forma diferente, imagino?

Naquela altura, com 11 anos, mesmo em treino já procurava pregar ‘cuecas’ nos colegas, nos próprios treinadores também (risos). Tinha esse ousadia, gostava de provocar. Não foi fácil, tal como o Pedro Neto o caso do Trincão é semelhante: são dois miúdos de Viana do Castelo, os treinos acabavam tarde e a seguir tinham a viagem de regresso a casa. Chegavam a casa a horas tardias, comer, estudar, não é fácil a vida destes atletas. É preciso muito sacrifício. No caso do Trincão lembro-me que tínhamos treino à sexta-feira ao fim do dia, acabava pelas 20h/20h30 e uma vantagem que ele tinha relativamente ao Pedro Neto é que quando o jogo era ao sábado ele dormia em casa dos avós, que vivem cá em Braga.

 

Estás a ver o Trincão a fazer uma ‘cueca’ ao Piqué num treino do Barcelona?

Estou. Tanto ele como o Pedro Neto são esse tipo de atletas, que não querem saber de quem está à frente deles. Não interessa se é um jogador do Campeonato de Portugal, juvenil ou se é de topo mundial, eles têm essa ousadia de ir para cima e castigar os adversários.

 

O que sentiste quando o Trincão fez o primeira golo pela equipa principal?

É todo o trabalho de uma estrutura, não é só o treinador, nem quem o foi buscar, há toda uma estrutura que faz parte do crescimento do atleta. Obviamente ver um atleta como o Trincão ou o Neto chegarem a uma equipa A, marcarem e serem transferidos para grandes clubes europeus traz um sentimento de enorme orgulho.

 

Como tens olhado para o talento que vai ‘borbulhando’ nesta equipa de Sub-17?

Há muitos jogadores que eu já conhecia porque foram meus atletas noutros escalões mais baixos. É um escalão, a par dos Sub-19, Sub-15, Sub-16 e Sub-14 com muita qualidade. O SC Braga tem uma estrutura neste momento muito forte, o que permite que tenhamos grandes atletas. Sabemos que há qualidade, muita gente com qualidade para chegar à nossa equipa principal. Agora, tudo vai depender deles. É um trabalho que exige sacrifício, que abdiquem de muitas coisas. Se tiverem essa capacidade de abdicar de saídas com amigos, regrar a alimentação, ter o descanso que devem ter, entre outros, tudo isso são componentes que vão ajudar a que possam chegar lá acima”.

 

"Estou a ver o Trincão a fazer uma 'cueca' ao Piqué no treino do Barcelona"

 

Há jogadores que anteriormente não tiveram tantas oportunidades e agora começam a aparecer. Ou seja, não há lugares adquiridos nem estatutos adquiridos…

Exato. O Dinis Gama, que no ano passado era iniciado, jogou na terceira fase pelos Sub-17 em alguns jogos, por exemplo. Não existe estatuto, tem de ser o rendimento. Não interessa a idade, interessa sim a competência. Isso é o que todo o treinador quer: jogadores competentes, com qualidade acima da média. E não ter medo de os lançar, porque só assim é que eles têm a oportunidade de dar essa resposta positiva.

 

És sócio desde o dia em que nasceste, já passaste por vários escalões e equipas do clube. Caso para dizer que se tiver a camisola e o símbolo do SC Braga, aceitas qualquer desafio?

Estou há 15 anos no SC Braga, defendo-o da melhor maneira que sei e posso e respondo a todas as solicitações que me foram fazendo. Sou sócio desde o dia em que nasci, estou aqui para defender o clube e os seus interesses. Onde o clube achar que eu sou importante, eu vou sempre dizer presente”.

 

Assiste à entrevista completa: