Keane é nome de craque irlandês, mas no SC Braga é sinónimo de uma máquina americana preparada para fazer golos. A carreira futebolística de Hannah Keane é passada em três continentes: América, Oceania e Europa.  A camisola 15 da Legião é uma das cinco maiores artilheiras da história do clube arsenalista e revelou em exclusivo ao scbraga.pt momentos e curiosidades que te irão surpreender.

Como começou o gosto pelo futebol: “Os meus dois irmãos mais velhos jogaram futebol e quando eles tinham jogos os meus pais levavam-me com eles para ver, mas eu ficava só a correr com a bola sozinha. Depois, juntei-me a uma equipa quando tinha cinco anos. Eu experimentei outros desportos (ténis, atletismo, pólo aquático, basquetebol e natação), mas não gostei de nenhum como gostava de futebol. Hoje em dia, os meus irmãos já admitem que jogo melhor futebol do que eles, isso é algo que me deixa radiante (risos)”.

O apoio dos pais durante a carreira: “Apoiaram-me muito. Sinceramente, não era um sonho que tinha quando era criança. Nunca pensei para mim: ‘vou ser jogadora profissional de futebol’. No entanto, na faculdade percebi que gostava mesmo de jogar e que quando a faculdade acabasse não queria parar. Comecei a ter a ambição de jogar a um nível mais alto porque sentia que ainda tinha algo a provar. Jogar na faculdade foi entusiasmante, mas queria ir mais longe. Falei com os meus pais e eles disseram que desde que eu fosse feliz eles iriam apoiar-me. Garantiram-me que se não resultasse podia voltar para a escola e poderia descobrir outra coisa para fazer profissionalmente”.

Vegan: “O meu pai tornou-se vegetariano quando estava na faculdade. Ele fazia atletismo e apercebeu-se que quando parava de comer carne, ele corria mais rápido, então simplesmente optou por deixar de comer carne. Anos mais tarde, quando ele conheceu a minha mãe, ajudou-a a parar de comer carne e ela também passou a sentir-se melhor. Eu nunca comi carne, mas comíamos peixe, ovos e queijo. Quando eu tinha 15 anos, numa reunião em família, decidimos que não precisávamos de leite nem de ovos e tornamo-nos todos vegan e sentimo-nos muito melhor”.

Aventura na caravana: “Os meus pais venderam a casa onde cresci e compraram uma autocaravana. Estava a viver na faculdade, mas sempre que podia ia visitá-los e viajava pelos Estados Unidos com eles. Nessas viagens tivemos alguns pneus furados, aconteceu que os sítios onde queríamos estacionar a caravana para dormir já não eram autorizados e tivemos de procurar outros locais para ficar durante a noite. Adorei a experiência e vou fazer o mesmo no futuro”.

A escolha pela Europa: “Quando não vais diretamente da universidade para a Liga Profissional dos Estados Unidos, tens de sair do país. Os meus pais queriam que lutasse pelo meu sonho e ficaram muito felizes por ir para a Europa. Não queria ficar presa nos Estados Unidos e há muito boas equipas na Europa, foi uma escolha fácil”.

A ausência dos pais:  “O período mais longo que já estive sem estar com os meus pais foram 11 meses, porque normalmente eles costumam ir visitar os sítios onde jogo e fazem umas férias. Falo com eles todos os dias por vídeo-chamada para não ter tantas saudades”.

Memórias de Newcastle: “Foi a minha primeira experiência semi-profissional depois da faculdade. Não estava na Premier League, não era o topo do topo, mas para mim foi muito importante. Joguei poucos jogos porque cheguei perto do final da temporada, mas foi uma boa experiência. Conheci jogadoras talentosas e fui treinada por bons treinadores. Nunca mais me vou esquecer de Newcastle, apesar do frio (risos)”.

Treinadora na Austrália: “Foi muito engraçado porque estava a treinar meninas com menos de 12 anos e eram um pouco ‘doidas’. Foi muito interessante porque nunca tinha treinado uma equipa que fosse minha mesmo. Foi muito divertido planear os treinos e tentar ensinar-lhes a parte tática, apesar delas não quererem ouvir ninguém, só queriam falar com os amigos e divertirem-se. Gostei muito, eram boas miúdas e agora vejo-as a crescer e lembro-me de quando eram tão pequeninas. Algumas já não jogam, mas a maior parte ainda joga, fico mesmo feliz por isso”.

Um troféu individual inesperado: “Na Austrália fui considerada a Jogadora do Ano dos Media. Todos os jornalistas e repórteres da nossa liga votaram em mim para ser a Jogadora do Ano. Eu estive lesionada durante três meses da competição e não joguei em muitos jogos, ter ganho aquele troféu surpreendeu-me muito. Fiz um grande final de temporada e os jornalistas reconheceram-me por isso”.

Os cangurus: “Ganhei uma paixão enorme pelos cangurus. Eles são tão adoráveis… gostei de alimentá-los. Tinham garras grandes o que era um pouco assustador, mas eram simpáticos desde que tivesse comida”.

Como surgiu a oportunidade de representar o SC Braga: “Na Alemanha tive o meu primeiro contrato profissional. Depois, voltei para os Estados Unidos, estive lá três semanas sem ter clube e perguntei a algumas amigas que ainda estavam a jogar quem eram os seus agentes. Consegui encontrar um agente que tinha muita gente a jogar na Europa e enviei-lhe um vídeo com os meus melhores momentos. Perguntei-lhe se me queria representar, ele gostou do que viu e aceitou representar-me. Quatro dias depois de começar a trabalhar com ele, ligou-me para ir para o SC Braga e não precisei de muito tempo para decidir”.

Maravilhada com o profissionalismo do clube arsenalista: “Comparando com a Inglaterra e com a Austrália onde estive em equipas semi-profissionais, o SC Braga superou todas as expectativas. Mesmo na Alemanha, não estava num clube como o Bayern de Munique ou o Wolfsburg, estava num clube pequeno que jogava na primeira liga alemã. Quando cheguei ao SC Braga fiquei maravilhada com o nível de profissionalismo e com a maneira como nos tratam. Tem sido uma experiência maravilhosa, a melhor da minha carreira”.

A atleta mais engraçada do SC Braga: “A Diana Gomes é a mais engraçada, mesmo não percebendo nada do que ela diz,  põe-me sempre a rir. Pode ser o tom da voz dela, mas acho piada a tudo o que ela diz (risos)”.

A mais talentosa: “A Denali é muito boa, independente da posição onde joga. Ela pagou-me para dizer isto, posso garantir (risos)”.

Viver com Denali Murnan: “Somos boas amigas. Se eu não estiver com disposição para uma festa ou para ser social, ela deixa-me estar tranquila. Ela tem problemas no estômago e não pode comer vegetais e frutas todos os dias como eu como. Se o estômago dela fosse perfeito de certeza que já seria a melhor vegan do mundo. Desculpa, ela acabou de dizer que não poderia ser vegan por causa dos gelados, ela adora gelados (risos)”.

Posição onde mais gosta de jogar: “Eu adoro ser ponta de lança, mas na minha formação até cheguei a ser defesa, detestei. Fazia o meu trabalho e até cumpria, mas não gostava. Depois só joguei no meio campo ou a avançada. Aqui jogo a 10 também, não odeio, mas se tivesse que escolher seria sempre a posição 9”.

A referência: “Sam Kerr, a avançada australiana, é a minha referência. Pela sua velocidade e pela sua capacidade de finalização, é um exemplo a seguir para qualquer avançada”.

Melhor momento da carreira: “O melhor momento foi ganhar a Liga BPI no ano passado. Já tinha ganho outras ligas, mas jogar a este nível e ganhar tem um sentimento especial”.

Melhor golo: “Foi no meu segundo ano na universidade. Foi uma bola longa, eu corri, uma defesa estava em cima de mim e eu fiz carga de ombro, cortei a bola, fintei uma jogadora e rematei com o pé esquerdo mesmo ao ângulo da baliza. Ainda me consigo lembrar de todos os sentimentos que tive naquele momento”.

Derrota que mais lhe custou: “O nosso primeiro jogo contra o PSG partiu-me o coração porque sei que podíamos ter feito muito melhor. Custou-me muito ser goleada, ainda por cima na Liga dos Campeões, mas aprendemos muito e mostrámos o que conseguimos fazer em Paris”.

Vitória da carreira: “O primeiro jogo contra o Sporting para o campeonato na época passada, em Lisboa, quando eu e a Machia marcámos. Como nós nunca tínhamos ganho ao Sporting nos 90 minutos, foi muito especial. Fiquei feliz por ter jogado e por ter sido decisiva nesse jogo”.

Jogar na Liga dos Campeões: “Depois de ter visto tantos jogos ao longo da minha vida, ouvir aquela música e jogar contra as melhores jogadoras é inesquecível. A Liga dos Campeões foi uma experiência incrível”.

Telefonema para os pais depois de ter sido campeã nacional: “Liguei aos meus pais mal fui para o balneário e eles estavam muito felizes. Eles estavam a ver o jogo no Facebook, viram a levantarmos o troféu, os confetis, tudo. Eles disseram-me que estavam muito orgulhosos de mim”.

A exigência de fazer golos: “Gostava de dizer que não me incomoda, mas quando não marco fico realmente frustrada. Sinto que o meu trabalho é marcar golos, por isso se não marco um golo fico desiludida e prometo a mim própria que no próximo jogo vou compensar e marcar dois ou três”.

Tarefas domésticas: “Adoro cozinhar, para mim é muito divertido. Lavar a louça depois de cozinhar é que não me agrada muito. Gosto de ter as minhas coisas muito organizadas”.

Especialidades na cozinha: “Agora inventei um bom molho para massas. Faço massa com vegetais e depois um molho feito de tremoços e cebola. Misturo tudo, fica muito cremoso, é mesmo muito bom. Também faço panquecas muito boas. Eu devo à Ágata algumas bolachas e à Farida brownies de batata-doce. Vou ter de cozinhar para elas (risos)”.

O dom para a arte: “Começou como um hobby. Desde muito nova que gosto de arte, adoro pintar e desenhar. Eu era boa, mas não era excelente, por isso nunca achei que poderia ser uma profissão. Até que estes desenhos que faço hoje em dia, consigo fazê-los muito bem. Definitivamente, gostaria que fosse mais do que um hobby, mas ainda estou a perceber como posso fazer disto a minha profissão”.

Série preferida: “Eu tenho uma lista porque nunca me lembro (risos). Eu gostei muito de Game of Thrones. Já é um pouco velho, mas adorei Stargate, era uma série de ficção-científica. Detesto reality shows ou coisas do género. Também gosto de séries com médicos como a Anatomia de Grey”.

Género de música: “Indie ou música folk, mas sinceramente depende muito de como me estou a sentir. Se for correr ouço músicas com berros, se for para desenhar músicas mais calmas. Gosto de Beatles e música rock também.

Livros: “Gosto de livros históricos, com ficção mas com uma história minimamente real. Li “Beneath the Scarlet Sky”, é baseado numa história real sobre a II Guerra Mundial, adorei”.

Os portugueses: “Os rapazes portugueses que conheci são simpáticos, mas baixinhos para mim (risos). Até sou romântica mas posso garantir que estou focada no futebol e na minha própria vida neste momento”.

Viagem preferida: “Yosemite na Califórnia, é um parque nacional, é extraordinário. Fiz ‘backpacking’ lá alguns dias e é muito bonito. Quero muito voltar lá no futuro”.

Quais são os objetivos para o futuro: “Quero jogar futebol até sentir que já não consigo mais, é algo que me faz feliz”.

Como gostava de deixar a sua marca: “Quero que se lembrem de mim como uma máquina de fazer golos, que era alta e tinha cabelo ruivo. Quero deixar a minha marca no futebol dessa maneira”.