José Abílio Gonçalves é uma das principais figuras do boccia nacional e internacional. Atleta do SC Braga desde 2010, já representou Portugal nos Jogos Paralímpicos de Paris (2025) e soma no currículo títulos como Campeão Europeu, Tetracampeão Nacional masculino, Bicampeão Nacional de Pares e ouro na Boccia World Cup (2024). Ao longo da carreira, conquistou ainda várias medalhas em competições mundiais e europeias, afirmando-se como um dos grandes nomes da modalidade.
O Gverreiro, que iniciou esta aventura no boccia em 2005, abre o livro sobre a sua carreira, fala do suporte fundamental que o impulsiona e traça as ambições para a Taça do Mundo no Brasil, próximo grande desafio da sua trajetória no boccia internacional.
Como surgiu o boccia: “Tudo começou com um aluno de Educação Física e Desporto que costumava ir ao café/restaurante da minha mãe. Eu estava lá, quando ele se aproximou e perguntou se alguma vez tinha pensado em experimentar boccia. Contou-me que o professor dele estava ligado à modalidade e sugeriu que falasse com ele. Acabei por aceitar o convite e fui até à APPC do Porto. Foi aí que tive o meu primeiro contacto com o boccia. No início, para ser sincero, não achei grande piada. Mas havia tanta gente entusiasmada e a incentivar-me a jogar que aquilo acabou por despertar a minha curiosidade. Acabei por achar aquilo tão interessante que decidi continuar para ver até onde poderia chegar”.
Ligação ao SC Braga: “A ideia de vir para o SC Braga surgiu numa altura em que já não tinha apoio para o transporte até ao Porto, o que tornava cada vez mais difícil conseguir treinar. Sabia que o Clube tinha uma secção de boccia e, depois de me sagrar Campeão Nacional em 2009, em Gondomar, surgiu a possibilidade de integrar a equipa. Já não me lembro bem se fui eu a contactar o SC Braga ou se foram eles que me abordaram, mas sei que a resposta foi imediata e bastante positiva. A partir daí, integrei o boccia do SC Braga e senti-me logo bem acolhido. Foi uma mudança importante na minha carreira, que me permitiu continuar a evoluir e a competir com regularidade”.
Infraestruturas de excelência: “Desde que nos mudámos para a AMCO Arena, o nosso nível mental subiu bastante. Adotámos uma postura mais profissional, assumimos mais responsabilidade e, acima de tudo, sentimos uma motivação muito maior. Para nós, esta mudança foi excelente. É verdade que nos locais onde treinávamos antes já tínhamos ambição, mas este novo espaço deu-nos um novo impulso. Reforçou o que já existia em nós, o sentido de responsabilidade e o profissionalismo, e trouxe ainda mais energia e vontade de evoluir”.
Muita dedicação nos últimos anos: “Estes resultados são fruto de muito trabalho. Ser tetracampeão nacional pode parecer fácil, mas não é. Os meus adversários estão cada vez mais preparados para me vencer, e eu não posso entrar numa nova época a pensar que serei automaticamente pentacampeão. Claro que esse é o objetivo, mas tenho plena consciência de que revalidar o título será cada vez mais difícil. Além disso, conquistar títulos internacionais exige ainda mais foco e empenho. Sei que, para continuar a vencer, preciso estar sempre concentrado e a trabalhar para manter o meu nível elevado”.
O papel do Clube: “O apoio que o SC Braga tem dado é excelente. Temos todas as condições necessárias para treinar e competir da melhor forma e, no meu caso, o transporte que me é assegurado. Por isso, sinto que a minha responsabilidade é corresponder com títulos e dar ao SC Braga a máxima visibilidade porque eles merecem. É mesmo de louvar ver um clube de futebol a investir no desporto adaptado. Deixo os meus parabéns ao SC Braga e espero sinceramente que mais clubes sigam este exemplo, pois seria uma grande mais-valia a nível nacional para muitas pessoas com mobilidade reduzida”.
Uma ligação forte e inseparável: “O Paulo Correia não foi logo o meu parceiro de competição. Começámos a jogar juntos há cerca de 10 anos. A nossa relação é muito forte, ele é tão competitivo quanto eu. O Paulo é excelente porque quer muito ganhar e são pessoas assim que preciso ao meu lado com esse espírito. A nossa ligação é como unha e carne, não só dentro da competição, mas também fora dela porque passamos muitas horas juntos. Ele cuida do meu físico e do meu mental, e o cuidado com o físico é algo extremamente importante para mim”.
Conquistas recentes: “Foi a primeira vez que conquistei estes títulos, Campeão Europeu em BC3 e Vice-Campeão em pares BC3 ao lado da minha colega de equipa e de Seleção Joana Pereira, e foi uma experiência muito especial. Mas o meu foco está agora na próxima competição que é a Taça do Mundo. Talvez só quando regressar comece a refletir verdadeiramente sobre tudo o que conquistei esta época porque ela ainda não acabou. Este título representa um marco importante na minha carreira. Sou atualmente Vice-Campeão do Mundo e Campeão Europeu e agora o meu objetivo é conquistar no próximo ano o campeonato do mundo. Estou sempre nas competições com a intenção de vencer. Tenho muitos anos de experiência no boccia e quando as coisas não correm bem como aconteceu, em Paris, nos Jogos Paralímpicos fiquei naturalmente muito dececionado. No entanto, não quero que esse resultado ponha em causa todo o meu esforço e trabalho porque sei que um jogo não define toda a minha carreira”.
O desejo de voltar aos Jogos Paralímpicos: “Não estou a viver o melhor momento da minha carreira. Sinto que ainda falta algo, aquela competição que adorei em Paris, os Jogos Paralímpicos, que foram uma prova extraordinária e grandiosa. Ainda sinto que me falta algo nessa prova e claro também o Campeonato do Mundo. Gostaria muito de voltar a participar nos Jogos Paralímpicos e dar o meu melhor”.
Autorretrato: “Sou uma pessoa determinada, focada, muito séria e humilde. Estou sempre à procura de mais e mais. Enquanto estiver a treinar, é para ganhar”.
Maior inspiração: “A minha mãe é uma verdadeira Gverreira, está sempre ao meu lado e é, sem dúvida, a minha maior fonte de inspiração”.
O apoio fundamental da família e Clube: “A minha família é a base que me permite vir treinar todos os dias. O apoio deles sustenta não só o meu lado físico, mas também o mental que é fundamental. O SC Braga através do professor Luís Marta e do seu profissionalismo juntamente com as excelentes condições que o Clube oferece é outro pilar importante nesse apoio. O Paulo Correia continua a treinar comigo e está sempre disponível para garantir que consigo manter os treinos diários algo que só é possível graças ao SC Braga. Tenho todas as condições para continuar a jogar e a lutar por títulos que são o meu maior objetivo”.
Objetivos a curto prazo: “A próxima competição é a Taça do Mundo, que vai decorrer no Brasil, no mês de agosto. Vou participar nas provas individual e de pares, esta última ao lado da Joana Pereira. O meu objetivo para esta competição é claro: ganhar. Ainda não sei quais as seleções que estarão presentes, mas sei que será uma taça muito competitiva. Vamos aproveitar a experiência do Campeonato da Europa para fortalecer ainda mais a empatia e a conexão entre nós dentro de campo, para que isso se note durante os jogos”.