O olhar sério dentro de ringue contrasta com o sorriso natural que exibe fora dele. Assim é Lara Martins, uma Gverreira que eleva bem alto o nome do SC Braga, clube do coração, e que no dia a dia admite ser muito vaidosa, algo próprio de uma adolescente de 15 anos.
Em apenas quatro anos, Lara tornou-se uma referência do universo das artes marciais do clube graças aos títulos conquistados, destacando-se um ano 2019 de ouro em que se sagrou campeã nacional de boxe e campeã nacional de kickboxing, modalidade na qual venceu ainda a Taça de Portugal de Light Contact. Uma campeã com ADN do SC Braga que não descansa à sombra do que já conseguiu e que almeja ir em busca de mais.
Uma mulher num mundo de homens
“Há muito preconceito e ouço muitas vezes que as mulheres não devem lutar porque é muito sofrimento. Mas sou feliz neste mundo porque sempre tive interesse por artes marciais. A primeira que pratiquei foi karaté até chegar ao cinturão amarelo. Mas acabei por desistir porque não me motivou. Não era aquilo que eu queria. Entretanto, como gostava de ver kickboxing com o meu pai na televisão e soube que o SC Braga, que é o clube do meu coração, tinha a modalidade decidi arriscar. Sempre fui adepta do SC Braga e sempre quis fazer algo pelo clube. Fui à academia, fiz um treino experimental e logo no fim do treino olhei para o ringue e pensei: ‘É ali que eu quero estar. Quero ir aos campeonatos, quero representar o SC Braga e quero levantar títulos’. Tinha 11 anos quando comecei no kickboxing, mas hoje também luto boxe”.
Brincadeiras de rapazes mas sempre vaidosa
“Quando era criança davam-me bonecas mas não ligava muito. Gostava mais de brincar com o meu irmão e a dada altura comecei a pedir coisas para construir e carrinhos. Aliás, ainda hoje gosto muito de carros. Na escola também recordo-me de brincar com os rapazes, mas sempre fui feminista. Gosto de me arranjar, tenho vaidade em ser mulher e lido muito bem com as pisaduras [risos]. Faz parte deste desporto. Posso sair de um combate com um olho inchado ou um lábio rebentado, mas não importa porque sei que fui para o ringue fazer o que gosto. Vejo essas marcas como provas daquilo que passei para chegar onde estou”.
Não houve duas sem três…mas à quarta foi de vez
“O meu primeiro combate foi nos campeonatos regionais e não correu nada bem. Foi uma experiência complicada porque fui jogar light kick e a adversária veio para cima de mim e fiquei à nora. Foi a sensação de pisar algo completamente novo. Mas não desisti. Depois fui a uma gala, em Cabeceiras de Basto, e lutei contra uma atleta mais velha. Não correu tão mal, porque já sabia o que era estar no ringue e estava mais segura de mim. Mesmo assim, não caiu para o meu lado. A seguir fui aos campeonatos nacionais e também não venci. Continuei a treinar muito, a ouvir os meus treinadores e consegui a primeira vitória na Taça de Portugal. Recordo-me que a adversária levou um golpe no queixo e teve que se chamar o médico. Foi o primeiro combate que venci. Tinha 12 anos”.
A sensação de estar no ringue
“O ringue é a minha casa, o meu conforto e a certa altura já nem a dor se sente, apesar, claro, de às vezes haver pancadas mais fortes. Mas temos de ser mais dura e mostrar resistência à adversária. Antes de pensar na minha dor tenho de pensar que vou magoá-la. O meu lema é dar sempre tudo o que tenho até ao fim”.
Kickboxing ou boxe, qual escolher?
“A minha porta de entrada foi o kickboxing. É um desporto muito bonito e confesso que me fascina mais. Mas quando luto boxe é diferente, porque se no kickboxing não posso bater com mais força porque não tenho idade ainda, no boxe já posso meter força e as pessoas gostam mais de ver. O kickboxing tem um jogo mais bonito, mas os dois juntos são especiais porque isto é uma arte que temos no corpo. Se um dia tivesse que abdicar de um, honestamente não sei qual seria. Penso que iria depender da fase da vida que estivesse a atravessar”.
Futuro académico e profissional
“Estou a terminar o 9.º ano e sou uma aluna com boas notas. Agora, ao ir para o 10.º ano, quero seguir Ciências Socioeconómicas para poder ter mais opções de escolha durante o ensino secundário quanto ao curso superior que irei tirar depois. Gostava muito de ser engenheira, mas penso mais seguir as áreas de desporto, gestão ou contabilidade porque imagino-me sempre a lutar. Acima de tudo, tem que ser algo que goste e que consiga conciliar com o kickboxing e o boxe”.
O amor ao SC Braga e o sonho com a camisola do clube
“Vou ver os jogos do SC Braga para a bancada sempre que tenho possibilidade, seja em casa ou fora. Tenho amigos que fazem o mesmo e ao acompanhar o SC Braga consigo conciliar as duas coisas: estar com os meus amigos e o amor pelo SC Braga. Divertir-me com eles e ver o SC Braga ao mesmo tempo é incrível. Ainda agora tinha tirado férias para ir aos Açores e assim também ia ver o SC Braga, mas não foi possível devido ao novo coronavirus. O maior sonho que tenho enquanto atleta do SC Braga é trazer um cinto de um Campeonato do Mundo”.