Aliado ou o maior inimigo? Não há consenso na forma como cada um de nós olha para o passar do tempo, mas se o aplicarmos a um processo de formação ele assume, certamente, um papel central. Por vezes ‘abafa’ certezas, noutras desponta talentos. Ao segundo ano de juvenil, Mateus surgiu melhor que nunca e precisou de pouco tempo para se afirmar como umas das peças preponderantes nos Sub-17 do SC Braga.

 

Mateus 2

 

Talvez porque tenha aproveitado da melhor maneira os momentos que antecederam o presente. Deixou para trás a fama de ‘miúdo reguila’, daqueles que vivem da brincadeira tão típica da (tenra) idade. Não que as suas qualidades pudessem ter sido colocadas em causa nas quatro épocas como Gverreiro do Minho, mas muito provavelmente nunca foram tão inquestionáveis como agora…

Entrada direta no Top 5 dos jogadores com mais minutos em 2019/20, dois golos e três assistências são alguns dos dados do desempenho do médio ofensivo ao longo da temporada. O balanço foi feito pelo próprio, em jeito de retrospetiva do caminho até aqui.

“O meu primeiro ano de juvenil não foi um ano em que eu conseguisse ter os minutos a que me tinha proposto, foi um ano menos bom a esse nível. Este ano melhorei, consegui atingir objetivos individuais, consegui marcar, fazer assistências, somar minutos, consegui ser importante no coletivo e acho isso contribuiu para que o grupo alcançasse também os seus objetivos”, contou.

 

 

E o que terá convencido, então, tamanha aposta por parte da equipa técnica? Mais do que qualquer característica individual, Mateus garante que o melhor atributo é sempre o empenho transportado para o campo: “Acho que as características que o conquistaram [Custódio] ao início não foram muitas. Ele incentivava-me sempre a melhorar, desde movimentação às técnicas de passe, e acho que foi esse trabalho de superação que o fez gostar de mim, porque a melhor característica para jogarmos é o trabalho que desenvolvemos dentro dos treinos”.

Trabalho que resultou nas duas chamadas aos treinos da Legião B (novembro 2019 e fevereiro 2020), um “salto grande” mas encarado com “responsabilidade e humildade”. À medida que o escalão sobe, aumenta também a exigência, e é altura dela que o jovem atleta pretende estar.

“Nós temos de tentar aprender com os melhores e os melhores são aqueles que sabem mais do que nós. Estar numa equipa cuja idade limite é de 17 anos e ir a uma equipa B, onde a maturidade é superior, aprende-se muito, enquanto jogador e enquanto pessoa”, confessou.

 

Mateus 5

 

O lado mais pessoal – tal como relatado no início desta conversa – levou às principais mudanças. Mateus não perdeu o caráter extrovertido, mas reconhece que hoje em dia o comportamento é bem diferente.

“Eu sempre fui uma pessoa muito extrovertida, gosto bastante de brincar, mas sinto que psicologicamente cresci bastante este ano”, revela, ciente de que novas etapas trazem novas abordagens: “Com o fluir dos anos vamo-nos apercebendo que é preciso adquirir determinadas aptidões, uma delas é a aptidão psicológica e mental. Cada vez mais é importante, mesmo sendo jovens, termos uma certa maturidade”.

Palavras de quem se tornou um dos elementos mais respeitados no balneário, o colega e amigo a quem todos gostam de recorrer.

 

Mateus 7

 

“Na nossa equipa há bastantes capitães e o capitão não é só a pessoa que usa a braçadeira, é a pessoa que consegue contagiar a equipa, que consegue passar uma palavra e eu considero-me um jogador que é ouvido dentro do balneário. O grupo sabe que eu sou alguém aberto, que gosta de brincar, mas que quando se trata de um momento mais sério sabe estar. Não sei explicar bem porquê mas sinto que eles gostam de falar comigo, estou sempre pronto a ouvir o que têm para dizer. Se um colega meu estiver mal e eu puxá-lo para cima, no treino seguinte ele vai estar melhor”, disse.

 

 

A afirmação dentro e fora das quatro linhas deixam a certeza de que há ganhos para além dos resultados ou números, que uma época pode resumir-se a mais do que cumprir o papel de bom jogador. Mateus sabe disso, orgulha-se do trajeto e confia no processo, o mesmo que o deixou tão perto da grande meta: cantar o hino de Quinas ao Peito.

“O passo que me falta é atingir a primeira internacionalização. Estive presente nesta última convocatória, fui ao estágio de preparação para a Ronda de Elite do Europeu e, pela forma como os treinos correram, tinha um ‘feeling’ que ia conseguir ser convocado caso Portugal avançasse para a Fase Final. Fica a mágoa, mas não vou desistir desse sonho”.

 

Mateus 10