Lado B com Ana Rodrigues
Ana Rodrigues, de 30 anos, é uma das referências do desporto nacional. Atleta de alto rendimento desde os 15 anos, construiu uma carreira repleta de conquistas. Em 2010, tornou-se a primeira mulher a conquistar uma medalha nos Jogos Olímpicos da Juventude, alcançando o bronze nos 50m Bruços, em Singapura. Também teve a oportunidade de competir nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012, a maior competição do mundo. Atualmente, a atleta do SC Braga detém as 30 melhores marcas de sempre nos 50m Bruços femininos em Portugal e soma 37 internacionalizações ao serviço da Seleção Nacional.
Além de ser uma atleta de elite, Ana é também psicóloga, profissão que concilia com a sua intensa rotina de treinos e competições. Esta temporada, a Gverreira chegou ao SC Braga com grandes ambições, determinada a continuar a sua trajetória de sucesso e a conquistar novos desafios com as cores do clube arsenalista.
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Paixão pela natação: "Comecei a nadar como muitas crianças. A minha mãe queria que eu aprendesse a nadar e, por isso, colocou-me numa aula inicial, daquelas em que os pais participam. No início, não gostava particularmente da água e queria estar sempre ao colo dela. Com o tempo, fui ganhando gosto, evoluindo de nível até receber um convite para integrar uma equipa de pré-competição na minha cidade. Foi aí que a vertente competitiva entrou na minha vida e comecei a gostar desse desafio. O momento em que realmente me apaixonei pela natação foi quando comecei a competir em Campeonatos Regionais e Nacionais, percebendo que tinha talento e que gostava não só de nadar, mas também de competir".
Incentivo para seguir esta modalidade: "Inicialmente, não houve ninguém em específico que me incentivasse. Fui-me motivando sozinha, embora o ambiente de equipa e a amizade com colegas tenham ajudado. Cresci numa cidade pequena, São João da Madeira, e, por isso, não tinha grandes referências nacionais. No entanto, lembro-me de me sentir inspirada ao ver uma competição internacional na televisão. Foi nesse momento que comecei a seguir atletas de alto nível e a ambicionar chegar mais longe".
Autorretrato: "Sou uma pessoa amável, simpática e tranquila, sempre pronta a ajudar e com grande empatia pelos outros. Tenho boa capacidade de comunicação e resiliência, além de ser competitiva. Sou também teimosa, um pouco introvertida, mas gosto de ambientes sociais. Aqui no SC Braga, acredito que já perceberam esse meu lado mais protetor, pois gosto de apoiar e transmitir segurança às pessoas ao meu redor".
A vida fora das piscinas: "Sou psicóloga, com mestrado integrado em Psicologia pela Universidade do Porto. Dou consultas de psicologia do desporto de orientação vocacional. Trabalho também com a Federação Portuguesa de Natação, prestando acompanhamento individual a atletas que me solicitam apoio, bem como a estudantes que procuram orientação vocacional. Além disso, acompanho os atletas do Centro de Alto Rendimento de Rio Maior na Federação Portuguesa de Natação, especialmente os escalões de Juvenis e Juniores. Nessa função, auxilio-os no desenvolvimento das competências mentais necessárias para lidar com a ansiedade competitiva".
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Momento mais marcante: "Foi a minha primeira prova no meu primeiro Campeonato Nacional, aos 11 anos, onde estabeleci um recorde nacional sem sequer ter noção da sua importância. Só mais tarde comecei a perceber o meu potencial e a definir objetivos mais ambiciosos, inspirando-me em atletas como Diana Gomes. Nunca imaginei que, aos 30 anos, ainda estaria a competir e a bater recordes, mas sinto-me muito feliz com este percurso".
Experiências e conquistas: "Fiquei surpreendida e muito feliz quando soube que sou responsável pelas 30 melhores marcas de todos os tempos em Portugal nos 50m Bruços femininos. Sabia que tinha bons tempos e recordes, mas esta estatística trouxe-me ainda mais motivação. Além disso, participei nos Jogos Olímpicos, o que foi uma experiência indescritível. Trabalhei muito para alcançar esse objetivo e, apesar de jovem na altura, tentei aproveitar ao máximo. Estava rodeada dos melhores atletas do mundo e viver na Aldeia Olímpica foi incrível".
Bronze nos Jogos Olímpicos da Juventude: "Lembro-me de como foi difícil, enquanto adolescente, ver os meus amigos de férias enquanto eu treinava em agosto para os Jogos Olímpicos da Juventude, que aconteceriam em Singapura. Quando chegamos lá, vi a lista das nadadoras para os 50 metros Bruços e percebi que a final estava ao meu alcance. Fiz uma eliminatória e fiquei bem colocada. Na final, sabia que tudo era possível e, com muito esforço, consegui conquistar a medalha. Fiquei extremamente feliz, e a celebração com a minha equipa foi inesquecível. Subir ao pódio, ainda mais pelo Comité Olímpico, foi um momento que me orgulho até hoje".
Deixar uma marca na natação: "Desde que comecei a destacar-me na natação e a integrar as Seleções Nacionais, sempre pensei em ser mais do que uma nadadora comum. Queria destacar-me não só pelos resultados, mas também pela minha personalidade. É gratificante saber que sou uma referência para outras nadadoras e sinto que estou a trilhar o caminho que planeei, deixando a minha marca nos jovens atletas".
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Maior desafio: "Aconteceu durante a pandemia de Covid-19, quando as piscinas estavam fechadas e tivemos que treinar em casa. Foi um desafio, mas também uma oportunidade de nos reinventarmos. Porém, o maior desafio da minha carreira foi em 2023, no Campeonato do Mundo em Fukuoka. Quatro ou cinco dias antes da minha prova, durante um treino, calculei mal uma chegada e acabei por partir o braço. Infelizmente, não estava a recuperar como era esperado e, então decidi sair da competição e focar-me na recuperação. O mês de agosto foi dedicado à fisioterapia, e foi muito difícil, pois não conseguia fazer simples tarefas do dia a dia, quanto mais treinar. Isso exigiu muito pensamento positivo da minha parte".
Motivação e consistência: "Não são sempre lineares. Houve momentos difíceis e resultados que não foram tão bons, mas o amor pela natação sempre me manteve firme. Hoje, com mais maturidade e apoio do meu treinador, consigo equilibrar a natação com a recuperação e alimentação adequada. O mais importante é saber que a consistência exige paciência e, às vezes, uma pausa para dar um passo à frente".
Hobbies: "O meu tempo é bem preenchido com treinos e trabalho, mas procuro sempre reservar momentos para ler e escrever como forma de reflexão. Como moro numa zona perto da praia, gosto de dar passeios junto ao mar. Também gosto muito de ir ao cinema e sempre que posso passo tempo com a minha família, aproveitando a calma dos fins de semana longe das competições".
Um olhar sobre o futuro: "Daqui a dez anos, a natação continuará a fazer parte da minha vida, seja profissionalmente, acompanhando atletas como psicóloga, seja simplesmente como espectadora. Sou uma apaixonada pela modalidade e continuarei a vibrar com as competições, mantendo-me sempre ligada a este mundo".