Viviane Goes, mais conhecida como Vivi, é uma das capitãs da equipa de voleibol do SC Braga. Irreverência, experiência, garra e uma insaciável fome de vencer definem a atleta de 37 anos, que chegou esta temporada à equipa comandada por João Santos. Embora o voleibol não tivesse nos seus planos iniciais, rapidamente se apaixonou pela modalidade e, desde então, nunca mais parou de a praticar, considerando que lhe trouxe uma realização pessoal. Além de ser atleta de voleibol, no ano passado Vivi embarcou num projeto aliciante ao tornar-se sócia de uma escola de voleibol no Peru: a Escola de Voleibol Cotito Sport.

A escolha do voleibol: “Não foi algo planeado, nem eu sonhava ser uma atleta profissional. Na verdade, nem sequer assistia a voleibol. Tudo começou por acaso: fui convidada para experimentar um treino de basquetebol porque uma amiga da minha mãe era professora nessa modalidade. No entanto, ela atrasou-se e, enquanto esperava, um professor reparou na minha altura e ficou surpreendido. Sempre fui uma criança alta para a minha idade. Esse treinador convidou-me para treinar voleibol, mas nem falou diretamente comigo, foi logo falar com a minha mãe. Disse-lhe a frase mágica: ‘Os mais pequenos pagam para os mais altos jogarem’. Assim comecei no voleibol. Pouco depois, começaram a chegar convites de escolas a oferecerem bolsas de estudo, apareceram convocatórias e, com 16 anos, fui jogar no Praia Clube. A partir daí, nunca mais parei, nem voltei para casa de forma definitiva. Aos 19 anos, joguei a minha primeira Superliga. Foi tudo muito rápido e intenso, mas nunca foi fácil. As oportunidades que surgiram foram resultado do meu esforço e do trabalho do meu primeiro treinador. Sem ele, eu não teria chegado até aqui”.

Ligação à modalidade: “O voleibol traz-me paz, construção, esperança, vitalidade e realização. Sinto-me viva! Não há lugar onde me sinta tão completa como dentro do campo. Não estou a romantizar nada. É mesmo assim que me sinto. Sou profundamente grata ao voleibol”.

Projeto Escola de Voleibol Cotito Sport: “Surgiu de forma inesperada. Recebi o convite de uma amiga do voleibol e, quando ela me mostrou o projeto, achei incrível. Era um clube que precisava de uma escola e ela, uma atleta, precisava de uma sócia e de um espaço para avançar com o projeto. Aceitei o desafio imediatamente e, momentos depois, tornei-me sócia. Nunca tinha pensado em trabalhar no voleibol de outra forma que não fosse a jogar. Mas o voleibol sempre apareceu na minha vida de forma inesperada, e eu não sou de desperdiçar oportunidades. Essa minha amiga e outros amigos insistiram que eu tinha jeito para ensinar e acreditei. Dediquei-me muito para que tudo corresse bem. Dividíamos os grupos e assumimos todas as responsabilidades desde a divulgação, preparação dos treinos, parte física… Fizemos de tudo até percebermos que a escola estava a crescer e contratámos outra professora para nos ajudar. A minha amiga era muito conhecida no Peru, e eu jogava num dos maiores clubes de futebol do país. Sem dúvida que isso trouxe muita visibilidade e procura. Todos os dias fico ainda mais motivada ao ver como o voleibol pode ajudar crianças a realizar sonhos, não só a nível desportivo, mas também no desenvolvimento pessoal. Tal como fui ajudada, sinto-me realizada por abrir portas e descobrir novos talentos”.

Momentos marcantes: “Tenho muitas histórias marcantes, mas a nossa primeira competição foi algo surreal. Ver as raparigas, que mal sabiam jogar e nem se conheciam, a transformarem-se numa equipa foi inesquecível. A alegria delas é algo que nunca vou esquecer. É impossível falar de apenas uma”.

Balanço da caminhada no SC Braga: “Tem sido uma experiência incrível e desafiadora. Ser a atleta mais experiente do grupo traz uma certa responsabilidade, mas não tenho medo disso. Esta troca de experiências enriquece-me e permite-me também aprender com as minhas colegas. Ser uma das capitãs da equipa foi uma surpresa, já que cheguei depois da maioria. No entanto, encarei essa confiança como um reconhecimento do meu percurso no voleibol e da pessoa que me tornei. Fui muito bem recebida e sinto-me realizada”.

Conselhos para os jovens atletas: “Nunca duvidem de si próprios. Podem ser o que quiserem e chegar onde desejarem. Não tenham medo do ‘se’ ou do ‘não’. Acreditem, trabalhem arduamente e dediquem-se, pois os resultados surgirão. O desporto faz parte da educação, por isso lembrem-se: tudo isto também vale para os estudos. Aproveitem cada momento de aprendizagem, quer na escola, quer nos treinos”.

Objetivos a curto e longo prazo: “Não sou de fazer grandes planos. Para felicidade de alguns, não tenho intenção de parar de jogar! Quero continuar a dar o meu melhor, construir bons momentos com a minha equipa, alcançar os nossos objetivos e terminar a temporada bem e realizada. Este é o futuro mais próximo que posso adiantar. Em relação à Escola de Voleibol Cotito Sport, o meu desejo é que continue a crescer, tornando-se cada vez mais inclusiva e acessível a mais crianças. Foi criada com muito amor e carinho, e espero que um dia possamos ver essas crianças tornarem-se grandes atletas e, acima de tudo, grandes seres humanos”.