João Novais abriu o livro da sua vida ao scbraga.pt. Desde uma infância com histórias caricatas às memórias no futebol com o seu pai, as páginas que revelou deixam-nos com uma nostalgia inexplicável. Reconhecido pelos seus livres diretos indefensáveis, o camisola 17 da Legião é um talento do futebol nacional, um daqueles que brilha no relvado do Municipal de Braga, aquele estádio de que já temos tantas, mas tantas saudades…

Paixão pelo futebol: “Sempre adorei futebol, devido à carreira que o meu pai teve fui um bocado influenciado nesse sentido. Sempre acompanhei a carreira dele e o gosto pelo futebol surgiu naturalmente desde muito cedo. Fui desenvolvendo este gosto ao longo do tempo, agora é a minha profissão e não deixa de ser o meu maior prazer”.

Vidro partido do vizinho: “Dentro de casa jogava com bolas que não davam para partir objetos, lembro-me que até tinha uma bola de algodão. Fora de casa parti alguns vidros das casas dos meus vizinhos. Lembro-me que quando tinha 8 anos parti um vidro de um vizinho e fugi para casa. Não disse nada aos meus pais, desliguei a campainha de minha casa, mas algumas horas depois o vizinho já estava a fazer queixa ao meu pai. Fui apanhado (risos)”. 

O pior castigo: “Quando na escola não tinha um bom comportamento tinha alguns castigos. Lembro-me que nas aulas de educação física a minha turma era rebelde e num período os rapazes tiveram todos negativa. Quando isso aconteceu, os meus pais proibiram-me de ir aos treinos durante dois meses. Jogava no SC Coimbrões, nunca mais me esqueci disso”.

A troca das bonecas da irmã pela bola de futebol: “Jogava muitas vezes futebol com a minha irmã dentro de casa. Muitas vezes jogava com ela nos corredores e colocava-a em frente à porta a fazer de guarda-redes. Ela mal andava, mas já a sentava no chão a ‘levar’ com as bolas de algodão. Confesso que algumas vezes arrumava as bonecas dela para termos espaço para jogar à bola (risos).

Os atrasos às aulas: “Chegava muitas vezes atrasado às aulas para jogar futebol. Chegávamos sempre às aulas a pingar por estarmos a jogar futebol e chegámos mesmo a ser repreendidos pelos professores por causa disso. Chegávamos à sala de aula todos suados, éramos 10 ou 12 rapazes assim, não era fácil estar ali dentro uma hora e meia todos fechados (risos)”.

Um seguidor atento da carreira do pai: “Estive sempre presente nos jogos mais importantes da carreira do meu pai. Fui um fiel seguidor dele durante grande parte da sua carreira. Lembro-me de dois momentos que adorei: a subida do Leixões SC quando estava na 2ª divisão B (atual Campeonato de Portugal) para a II Liga e da transição do meu pai de jogador para treinador. Ele deixou de jogar e assumiu logo a equipa técnica do Leixões SC. Recordo-me de uma época quando ele estava no SC Campomaiorense que dava gosto ir aos jogos, pela cultura da cidade de Campo Maior, pelas pessoas que são muito humildes e muito simpáticas. Tive uma semana nas férias da páscoa em Campo Maior com o meu pai e fiquei maravilhado com o grupo que eles tinham na equipa, as famílias eram amigas umas das outras, era tudo muito genuíno”.

Pais como os melhores conselheiros na sua carreira: “Os meus pais são os meus maiores conselheiros e os meus maiores críticos. Foi muito bom eles alertarem-me para tudo. Quando tive de optar entre a vida escolar e o futebol profissional foi muito difícil, lembro-me de fazer os pré-requisitos para a Faculdade de Desporto. Eles estiveram sempre do meu lado em todos os momentos e em todas as minhas decisões”.

O festejo do golo contra o pai: “Foi um momento especial. Fiz três golos no Estádio do Bessa contra o meu pai pelo Leixões SC, ele era treinador do Boavista FC. Ficou 4-4, marquei o quarto golo do Leixões SC no último minuto e, na emoção do momento, tirei a camisola e festejei como se tivesse ganho o campeonato. Ele na altura ficou chateado e disse: ‘tiras a camisola a festejar um golo contra mim!?’. Eu respondi-lhe que apesar de sermos pai e filho, estamos a defender as nossas cores e que temos de ser profissionais. Pronto, confesso que se calhar festejei de mais, mas depois ficou tudo bem entre nós os dois (risos)”.

Quem bate melhor livres na família: “Ele ainda tem mais golos do que eu de livre neste momento, mas espero alcançá-lo. Já lhe perguntaram quem bate melhor, ele responde que bate mais em jeito e eu mais em força. Ele era um exímio batedor de bolas paradas e eu tento seguir as pisadas dele. Espero ainda evoluir mais nesse aspeto”.

Do SC Coimbrões ao FC Porto: “Foi fantástico receber aquela notícia. Quando recebi o convite do FC Porto, senti que o sonho que tinha desde pequeno estava a tornar-se possível. Foi algo que me marcou muito, desenvolvi-me muito no FC Porto como jogador e como pessoa. Estudava com os meus colegas de equipa numa escola, isso fez-me crescer muito a nível pessoal”.

O primeiro jogo nos seniores do Leixões: “Quando estava no meu último ano de júnior, fiz o último jogo do campeonato da equipa sénior no Restelo, foi a minha estreia. Apesar de termos perdido 1-0, foi dos momentos mais marcantes da minha carreira. Os meus colegas incentivaram-me muito. Lembro-me que o Paulinho e o Pedro Santos, que jogaram no SC Braga, deram-me muitas palavras de motivação para que tudo corresse bem”.

O primeiro contrato e o gosto de ‘mimar’ a sua família: “O meu primeiro contrato era de 60 euros por mês. Eu poupava muito dinheiro, os meus pais aconselharam-me a isso. Na altura do Natal, com esse dinheiro dava prendas aos meus pais e à minha família, adoro oferecer presentes a quem mais gosto”.

SC Braga é o maior desafio da carreira até ao momento: “É o maior desafio que tive na carreira. É o patamar mais alto onde cheguei na minha vida desportiva. O SC Braga é um clube grande em Portugal e isso traz muita responsabilidade. O SC Braga já tem grandes objetivos em todas as competições em que participa, isso dá gosto a qualquer jogador”.

Os colegas que detestam perder e os mais divertidos do SC Braga: “O Tiago Sá, o Wilson e o Rui Fonte detestam perder, se perdem uma ‘peladinha’ vão à loucura. Divertidos temos muitos, o Ricardo Horta, o Raúl Silva, o Sequeira, temos um núcleo grande de divertidos, temos um grande grupo”.

Nome do pai como alcunha: “Os meus colegas chamam-me Abílio. Eu tive colegas de equipa que jogaram com o meu pai, o Nuno Silva e o Pedras, por exemplo. Havia uma ligação óbvia ao meu pai quando comecei a jogar e isso surgiu naturalmente. O Ricardo Horta e o Sequeira continuam a tratar-me pelo nome do meu pai. Eu levo na brincadeira, não me importo com isso”.

As quatro referências: “Sempre tive um fascínio por quatro jogadores: Beckham, Pirlo, Ronaldinho e Fabregas”.

Os atletas mais talentosos com quem jogou: “O Fábio Martins a nível técnico é acima da média, é um dos jogadores mais tecnicistas do nosso campeonato. Depois também joguei com o Pelé, que atua agora no Reading, que também me surpreendia bastante a todos níveis, foi um jogador com quem adorei jogar”.

Melhor golo da carreira: “O melhor golo da carreira foi ao serviço do Leixões SC contra a UD Oliveirense. A bola ficou no ar, dominei de peito e sem deixar cair atirei ao ângulo. Foi parecido com o golo do James Rodriguez que foi considerado o melhor golo do Mundial. Lembro-me que o Chiquinho, que agora joga no SL Benfica, pôs as mãos na cabeça quando fiz aquele golo.

 

Treinadores que marcaram a sua carreira: “O Horácio Gonçalves e o Pedro Martins marcaram-me muito pelas oportunidades que me deram. O Horácio lançou-me na equipa principal ainda com idade de júnior e o Pedro Martins deu-me a oportunidade de dar o salto para a I Liga. Foram dois treinadores que vão ficar para sempre marcados na minha vida”.

Jogo com maior sabor amargo: “O empate com o FC Zorya em casa para a Liga Europa, custou-me muito. Nós não merecíamos aquele resultado pelo que fizemos na eliminatória. Foi muito duro não ter passado à fase de grupos da Liga Europa na última época”.

O pior momento: “Lembro-me que fui chamado à Seleção de Sub-20 para um torneio internacional, podia estrear-me por essa Seleção e, no dia em que me ia concentrar em Lisboa às 22 horas, tive a primeira jornada da II Liga com o Marítimo B. Lesionei-me nesse jogo, fiz um estiramento no joelho que me obrigou a ficar de fora dessa convocatória. Foi o pior momento da minha carreira”.

Melhor momento da carreira: “O melhor foi a conquista da Taça da Liga pelo SC Braga, é um momento inesquecível”.

O que mudou com o nascimento da filha: “Mudou tudo. A responsabilidade, o teu dia a dia, a tua liberdade, muda tudo. A partir do momento que tens uma filha tudo muda, a prioridade passa a ser ela”.

Um estágio pleno de emoções: “Foram dias maravilhosos. Eu fiz anos no estágio, no dia seguinte a minha filha nasce, fui a correr para o Porto vê-la nascer, quando regresso jogo com o Portimonense e faço o golo da vitória. Foram dias muito emotivos que nunca mais me vou esquecer”.

A tarefa de casa que menos gosta: “Não gosto de aspirar e de limpar o chão. O resto das tarefas acho que cumpro bem e até tenho essa iniciativa de ajudar”.

Os pratos preferidos: “Gosto muito de picanha e do arroz de marisco da minha mãe, só do da minha mãe”.

Local de férias predileto: “Adoro passar férias no Algarve. Gosto muito de estar perto da praia. Os clubes onde joguei na formação são relativamente perto do mar. Os meus avós eram pescadores e ganhei sempre muita afeição pela praia e pelo mar”.

As metas traçadas para o futuro: “Espero conquistar títulos e ajudar o SC Braga neste momento. Gostava de chegar à Seleção Nacional, é o sonho de qualquer atleta. Tenho a ambição de deixar a minha marca no futebol”.

Desejos para a sua carreira: “Gostava de deixar a minha marca como um jogador que ganhou muitos títulos, que deu sempre o máximo por onde passou e claro que tenho o sonho de ser reconhecido a nível internacional. Adorava que se lembrassem de mim como um grande jogador que teve uma grande carreira”.