Imprevisível, letal e determinada: três características que definem Andreia Norton. A Gverreira do Minho soma 48 jogos e 24 golos com a camisola do SC Braga e é uma das principais referências da equipa arsenalista para a temporada 2020/2021.
Andreia Norton contou à scbraga.pt as vivências da sua infância, o percurso futebolístico e os objetivos para o futuro. A camisola 9 do SC Braga quer conquistar títulos ao serviço do clube minhoto e deixar a sua marca no futebol feminino nacional.
A infância e o início da carreira com os rapazes: “Acredito que estava nos genes porque o meu pai era jogador. Até aos 7 anos jogava na rua com os meus primos. Depois, fui para o CD Furadouro, joguei até aos 13 nessa equipa com os rapazes. Foi ótimo ter começado a jogar com os rapazes, eles protegiam-me bastante”.
A menina dos pés descalços: “Jogava sempre descalça na rua onde morava com a minha avó. Fazíamos as balizas com os sapatos ou com pedras. Às vezes quando perdia havia pancada, mas felizmente ficamos todos amigos (risos). Fugia também muitas vezes de casa para jogar à bola, a minha avó andava sempre à minha procura. Era bastante rebelde”.
As prendas: “As minhas prendas eram sempre uma bola ou umas chuteiras. Só me lembro de uma vez ter recebido uma boneca, mas normalmente era tudo relacionado com o futebol”.
O futebol começou a ser levado a sério em Oliveira de Azeméis: “Comecei a levar o futebol mais a sério quando comecei a jogar na Oliveirense e quando fiz o meu primeiro jogo na 1ª Divisão Feminina”.
O crescimento em Albergaria-a-Velha: “O Albergaria tinha uma grande equipa, com uma linha avançada muito forte. Jéssica Silva de um lado, eu do outro e a Ju no meio. Adorei jogar naquela equipa com aquelas jogadoras. O facto de ser um clube que lutava por títulos, preparou-me para ter a mentalidade certa para ser jogadora profissional”.
A chegada ao gigante Barcelona: Quando cheguei a Barcelona nem queria acreditar no que estava a ver, parecia que estava a viver um sonho. Era muito nova, até me emocionei a vestir a camisola do Barcelona pela primeira vez. Depois, entrar num balneário e ter a Putellas ou a Hermoso ao meu lado foi maravilhoso. Fui muito bem acolhida em Barcelona”.
A saída do SC Braga sem títulos: “Doeu-me muito. Era um objetivo meu ganhar títulos no Braga e fiquei muito triste por não conseguir vencer nenhum. Nunca mais me vou esquecer da final do Jamor, custou-me tanto não ter ganho”.
Passagens na Alemanha (Sand) e em Itália (Inter de Milão): “A língua na Alemanha foi um grande obstáculo. Depois, custou-me adaptar porque era um jogo muito defensivo e eu gosto de futebol de ataque. Em Itália foi muito mais fácil adaptar-me, tínhamos uma equipa muito nova no Inter e consegui aprender italiano. Gostei muito de ter jogado no Inter, foi uma oportunidade impossível de rejeitar”.
Razões para regressar ao SC Braga: “Voltei ao SC Braga porque quero ganhar títulos por este clube. Senti que era uma oportunidade para voltar a jogar ao meu maior nível e quero dar alegrias aos adeptos. Sempre me senti muito acarinhada em Braga”.
A ajuda na integração das novas atletas: “As mais velhas têm a obrigação de passar a mensagem do que é ser uma jogadora do SC Braga. Uma jogadora do SC Braga tem de ter a consciência que está a representar um clube grande em todos os momentos, tem de ser muito empenhada e ter uma mentalidade vencedora”.
Vontade de deixar a sua marca no clube: “Sinto muito orgulho por ter feito parte do início do projeto de Futebol Feminino do SC Braga. É um prazer vestir esta camisola e quero deixar a minha marca no clube”.
O número 9: “Escolhi o 9 porque é a data de aniversário da minha avó e porque a minha melhor amiga usava o número 9 no basquetebol”.
O pior e o melhor momento da carreira: “O golo que deu o apuramento para o Europeu, foi um momento incrível e que nunca irei esquecer. A lesão em Barcelona foi um momento muito duro para mim”.
Referências: Ronaldo por todo o seu talento e a Diana Gomes pela sua entrega e determinação no futebol”.
Na voz de quem a conhece melhor:
Diana Silva (Colega de Andreia Norton na Seleção Nacional):
As qualidades de Andreia Norton: “Para mim a Norton é uma jogadora com imensa técnica e muito inteligente. Tem uma finta curta muito rápida e sabe usar muito bem o corpo para proteger a bola”.
Difícil de a ter como adversária: “Sim, já a tive como adversária várias vezes e é sempre uma jogadora muito difícil de defender por ser bastante imprevisível. Neste caso, ainda bem para mim que são raras as vezes que me cabe essa função”.
Capacidade para chegar a altos voos: “Na minha opinião, se a Norton quiser e trabalhar para isso, tem qualidade para jogar numa das melhores ligas europeias. E, claro, vai continuar a ter um papel fundamental na nossa Seleção”.
Paulo Silva (Treinador de Andreia Norton na UD Oliveirense e no FC Cesarense)
A chegada à UD Oliveirense: “Disseram-nos que a miúda tinha jogado com os rapazes, mas nunca criámos muitas expetativas. No primeiro treino, vimos que era muito desenvolvida fisicamente, mas mal tocou na bola ficamos surpreendidos. Tinha uma potência de remate que nos deixou de boca aberta. Todos dissemos: temos aqui um prodígio”.
A mentalidade: “Tinha mau feitio quando perdia. Tem uma mentalidade competitiva inacreditável. Faz-me lembrar o Ronaldo. É daquelas que estava a ganhar 4-0 e estava a pensar para ela: ‘está 4-0 e eu ainda não marquei um golo?’ Vou-te contar uma história: Estávamos a ganhar 4-0 ao Feirense ao intervalo, mas ela ainda não tinha marcado golo. De repente, entra no balneário e começa a pontapear as garrafas. Disse-lhe que ela entrava na segunda parte e que ia fazer hat-trick. Começa o segundo tempo e ela em 10 minutos faz dois golos. Aos 90 minutos assumiu um livre e fez hat-trick. É um momento que nunca mais me vou esquecer”.
Potencial para ser uma referência do futebol feminino nacional: “A Andreia tem todas as capacidades para ser uma atleta de eleição. Não tenho dúvidas: a Andreia tem capacidade para deixar a sua marca no futebol feminino nacional”.