Um raio de luz desceu sobre o futebol português, iluminando a visão de alguns dos seus responsáveis sobre uma calendarização que agora se revela caótica e sobre a qual há conclusões taxativas e críticas lancinantes.
O deserto onde o SC Braga vinha pregando há já largos meses termina afinal num oásis, onde até se saciam aqueles que juraram desta água nunca beber.
É irónico que a Imprensa desta terça-feira dê eco do SL Benfica a rasgar as vestes contra o calendário, sobretudo por haver uma gritante falta de comunicação entre quem escreve as newsletters e quem representa o clube nas reuniões estratégicas e nas decisões em sede de Comissão Permanente de Calendários (CPC).
O SC Braga saúda, obviamente, que uma SAD com a responsabilidade do SL Benfica se junte à luta por um calendário, e citamos, que “salvaguarde os interesses do futebol português” e que alerte contra a “elevada concentração de jogos que se seguirá” à paragem.
É um ato de contrição muito relevante por parte do clube que mais se indignou para que o Boavista FC x SC Braga se jogasse a 31 de outubro, bem dentro do tal ciclo caótico. Um reconhecimento tardio, é certo, mas que recebemos com muito agrado, cientes de que no futuro o SL Benfica será consonante com a posição agora tomada na crítica a uma calendarização que ajudou a formular enquanto membro das últimas CPC.
O SC Braga sabe que posições defendeu em tempo oportuno. O SC Braga tem documentados os alertas que lançou em abril, quando recebeu as propostas da Liga e da CPC para 2019/20. O SC Braga recorda a estratégia defendida pelo seu Presidente em reuniões com os congéneres e com os líderes da FPF e da Liga Portugal, correspondendo às reflexões que Fernando Gomes tem promovido para reformulação dos quadros competitivos. O SC Braga já há muito advogou, como hoje também reclama Carlos Carvalhal, que o “break” de dezembro é inoportuno e contrário aos interesses da indústria, tendo António Salvador deixado muito claro que o mesmo só se devia realizar após o dia 5 de janeiro.
A coerência é um valor importante. Fomos contra esta calendarização em abril, quando a mesma nos foi apresentada como um produto acabado pela Liga e pela CPC, e lançamos alertas muito concretos em agosto e em setembro, agora acolhidos por outros, manifestando também a necessidade de pensar a existência da Taça da Liga tal como a conhecemos, a criar vazios competitivos e a empurrar jornadas do campeonato para ciclos sobrelotados, tudo para que a menina dos olhos desta Liga possa ocupar fins de semana nos primeiros meses da época e condicione todo o mês de janeiro.
Tudo o que defendemos em setembro, aquando do inenarrável processo de marcação do jogo com o Boavista FC, é por nós reafirmado, cientes de que as dificuldades que esta calendarização impõe aos clubes serão ainda mais agudas durante os próximos meses e em particular no início de 2020, quando tudo se estiver a decidir e quando um pensamento estratégico (que não houve) se revelar fundamental para, à escala europeia, se perceber que países vão atingir os seus objetivos e que países vão definhar, condenados à sua endémica falta de visão.
Que seja a Taça da Liga o prego no caixão do futebol português é de uma ironia queirosiana, mas que da nossa parte não passará sem a devida denúncia: este estado de coisas é responsabilidade da Direção da Liga e dos clubes que a integram, mas é também o reflexo de um modelo de governação que o G15 já denuncia há dois anos como caduco, mas que Pedro Proença se recusa a reformar – contrariando o que prometera antes das eleições – e que ficará gravado na história como causa maior da nossa perda de competitividade.