A estratégia está, há muito, definida. O futuro está, há muito, preparado. Quem o garante… Paulo Meneses, diretor de scouting do SC Braga e um dos responsáveis pela política desportiva do clube.
Em entrevista ao jornal Record, defende que o clube tem estratégias bem definidas e sobretudo bases que permitem encarar este período complicado com otimismo.
Paulo Meneses garante que a aposta na Cidade Desportiva é para reforçar, apelando ainda a uma urgente mudança de paradigma no futebol português.
Preparados para o futuro pós-pandemia
“Ninguém pode dizer que está preparado para as consequências deste fenómeno. Mas, no caso do SC Braga, talvez estejamos um pouco otimistas, porque tínhamos muita coisa preparada de antemão e não vamos ter necessidade de alterar muitas coisas. Estamos todos na expectativa para perceber como vamos sair disto e que consequências isto trará”.
Otimismo assente em estratégia há muito definida
“É uma estratégia que estava completamente definida antes disto. É uma ideia que o clube tem, e toda a estratégia acompanha essa ideia. Uma ideia de clube formador e de potenciar ao máximo a academia e as condições que lá temos. Todo esse trabalho estava a ser feito muito antes disto, e aí, se calhar, o SC Braga partirá um pouco à frente para ultrapassar esta fase. É um trabalho muito mais interno do que propriamente estar a vasculhar e a ver o que é que o mercado nos vai trazer. Nesse aspeto estamos mais otimistas”.
A importância de mudanças no futebol de formação
“O SC Braga é dos clubes em Portugal que mais investiu na formação, não só nas infraestruturas que estão à vista de todos, o que permite ser hoje um clube de excelência na formação. Para isso acontecer, é preciso que todos acompanhem essa aposta. E, neste momento, há muito a fazer em termos das leis de futebol de formação, da defesa dos clubes que querem formar com excelência. É fundamental mudar o regime jurídico, que não defende os clubes formadores. Esta é uma boa oportunidade para fazer isso”.
Necessidade de maior proteção aos clubes formadores
“Nós trabalhamos com um jogador jovem que chega à academia com 12 anos, mas até poder assinar contrato profissional – que é aos 16 anos – nós estamos completamente expostos. E é um investimento muito grande num jogador em quatro anos para trabalhar como nós trabalhamos, com todas as condições e instalações de top mundial. Nós fazemos um esforço enorme para que o corpo técnico seja de altíssima qualidade, para uma formação de excelência, o que acarreta custos. E isso tem de ser defendido. Vem aí um momento de crise profunda, em que já se diz que o futuro próximo e a médio prazo será a formação e não haverá capacidade de recrutar fora e fazer grandes investimentos. Bom, então vamos clarificar o que é o futebol de formação e quem realmente forma em Portugal. Isso é um aspeto a rever e com alguma urgência”.
Formação: cada vez mais o caminho
“O SC Braga quer, e está a conseguir, ser um clube formador de excelência, com uma ideia e identidade de clube muito definida. Consegue-se isso formando com qualidade, jogadores de qualidade técnica e de bons valores humanos. Esse é o caminho”.
Jovens nos trabalhos da equipa principal
“A nossa ideia é ter jogadores da Equipa B e Sub-23, pelo menos, em atividade. Mas isso é uma decisão do treinador. E, dentro da ideia do trabalho integrado, o próprio Custódio conhece melhor do que ninguém o que é a academia, e até aí estamos um pouco à vontade”.
A todo o vapor na formação de jogadores de excelência
“É fundamental descobrir jogadores e continuar a fazer o que o SC Braga tem feito nos últimos anos, jogadores de excelência. É um processo que não é fácil. Estive no SC Braga há dez anos e noto que as coisas mudaram muito rápido. A nível da formação é como da noite para o dia. O SC Braga já caminha a todo o vapor e é fundamental ir descobrindo e formando novos ‘Trincões’ ou novos ‘Netos’”.
O scouting do SC Braga
“Temos dez quadros fixos e 23 pessoas que permitem cobertura em termos nacionais. Qualquer ideia de recrutamento tem sempre esta perspetiva: o rendimento, exclusivamente para a equipa A, pois nunca vamos buscar um jogador fora para ter rendimento que não seja na equipa principal; e a projeção que identificamos no jogador, do que pode ser no futuro. A estratégia tem sido recrutar cada vez mais cedo, para dar espaços competitivos aos jogadores também mais cedo. A equipa Sub-23 é maioritariamente composta de de jogadores Sub-19, na equipa B o plantel para a próxima época terá média de idades a rondar os 19 anos. E depois formamos com essa excelência que queremos para os trazer até à equipa A e, aí sim, conseguimos o rendimento. Nunca traremos jogadores para a formação apenas para o rendimento”.
O modelo de jogador SC Braga
“Nós temos uma ideia de jogador pretendido: um jogador de equipa que queira futebol ofensivo, ter bola, dominar o jogo. E isso tem de valer da primeira equipa às escolinhas. Qualquer jogador que entre no SC Braga é sempre com perspetiva de equipa A”.