Há vitórias saborosas, outras, que de inesperadas, se tornam verdadeiramente especiais. Há capítulos que se podem reescrever, histórias que se podem inverter e deixam outra história para contar. Esta é a estória de Tamila Holub nos Campeonatos Nacionais Absolutos que decorreram, dias 1,2,3 e 4 de agosto, no Funchal.
Nesses quatro dias, Tamila enfrentou quatro provas e ganhou… quatro medalhas de ouro. “Nada de surpreendente”, poderão alguns dizer, para uma atleta que faz da garagem de casa o espaço onde consegue albergar todo o reconhecimento, mas há histórias que vão para além dos resultados e que é preciso narrar. O nome já é ‘olímpico’ – acrescente-se -, porém, vamos por partes: a viagem começa nas 30 horas de voo e na dúvida sobre se Tamila iria conseguir nadar…
I. Primeiro, a hesitação
“Confesso que esta competição superou em muito as minhas expectativas, principalmente depois do primeiro dia. Foram cerca de 30 horas desde a Coreia do Sul até à Madeira, quando cheguei à piscina estava com dúvidas se conseguiria nadar porque perdi muito a sensibilidade na água, perdi força e senti que o cansaço era enorme. Tinha muitas dúvidas de que conseguiria nadar as provas todas, era nisso que estava a pensar no primeiro momento”.
I I . Com os 200m, a superação
“Os 1500 deram-me confiança, em seguida vieram os 200m, uma prova que não é a minha especialidade, e também consegui vencer. Depois dessas duas era uma questão de princípio ganhar as restantes… Constatei que realmente não só a nível de fundo mas também a nível de velocidade estava bem. 1500m é uma prova mesmo a fundo, onde o importante é manter o ritmo, já na de 400m e 800m é preciso saber fazer mudanças de velocidade. Ver que aos 200m fui capaz de acelerar e de mudar o ritmo acalmou-me um bocado para as outras provas, deu-me sem dúvida muita confiança”.
Análise ao momento de forma:
“Foi mesmo inesperado porque senti-me melhor agora, nos nacionais, do que nos mundiais, e acho que tenho de tirar daí conclusões para as próximas competições. É melhor os erros acontecerem nos mundiais do que nos jogos olímpicos do próximo ano, por exemplo. Esse foi um bom momento para ver o que fiz de bom e o que preciso de melhorar no futuro”.
I I I. A vitória chegou ainda antes
“Provavelmente a prova que me deu maior gozo foi a primeira, dos 1500m, porque é a ‘minha’ prova e além disso já estava com saudades de nadar uma prova assim. Nestes mundiais não nadei da forma que gostava e esta é uma prova à qual tenho muitas boas memórias associadas, como o título de Campeã da Europa. Senti finalmente o meu ritmo, vi o treinador a mostrar-me os parciais, estava a controlar o que estava a fazer, estava super concentrada e deu-me um gosto imenso nadá-la. Já estava com saudades de sentir e de gostar tanto de uma prova assim”.
IV. A foto prometida
“No último dia já estava mesmo a acusar o cansaço do acumular de provas, estava tão cansada que olhei para o Luís Cameira [treinador] e disse: ‘Cameira, se forem quatro vou festejar assim’. No final, quando terminei prova, vi-o de imediato e senti-me mesmo muito feliz. Não costumo festejar muito no final de uma prova mas desta vez senti que precisava mesmo de descarregar toda aquele cansaço e emoção”.
V. Uma secção com futuro
“A natação tem imenso para dar ao SC Braga. Com um bocadinho mais hipóteses de mostrar o quanto gostamos do nosso clube podemos todos ganhar com isso. Temos atletas mais novos a vir para a equipa, miúdos com muito talento, muitas capacidades, e acredito que vamos ouvir os nomes deles no futuro. Da minha parte vou dar-lhes todo o apoio, aprendizagem e suporte que precisarem, sinto que esta geração mais jovem precisa muito do clube e da envolvência de todas as pessoas”.
VI.”Olha, é a Tamila”
“Durante as provas, conforme ia ganhando, senti que precisava de continuar a vencer e de ter bons resultados. Ires para uma prova e ouvires o pessoal mais jovem a dizer ‘olha, é a Tamila’ faz com que automaticamente penses: ‘ora bem, se calhar isto tem de ser bom…’ Espero que esteja a dar um exemplo positivo, que esteja a motivar as pessoas porque para mim esse é o maior motivo de orgulho”.