O início do mês de março foi um turbilhão para Custódio, que concluiu a primeira semana ao comando dos Gverreiros com uma contundente vitória sobre o Portimonense SC e já preparava a equipa para a deslocação aos Açores quando o novo coronavírus obrigou à interrupção dos campeonatos. A paragem não coloca travão nas perspetivas que o treinador tem para a equipa nem para o crescimento do SC Braga, mas Custódio admite que o contexto especial vai exigir uma resposta que, está seguro, a equipa saberá dar.
Na última parte da entrevista, fica a análise ao plantel principal, mas também a projeção de como vai a formação ser uma presença cada vez mais constante entre as primeiras opções. A qualidade dos recursos de que hoje o SC Braga dispõe e o profundo conhecimento que o treinador tem da ‘cantera’ permitem antever um futuro risonho.
Assumiu o comando da equipa principal após um ciclo de resultados muito positivo. Qual é o peso deste contexto para quem chega?
– Nós estamos a ganhar, esse é o ponto fundamental, e o que queremos é continuar a ganhar. Sempre fui uma pessoa com coragem e é essa coragem que me vai orientar nesse projeto. O SC Braga vir de um ciclo ganhador não é algo de muito diferente neste clube, tem sido assim ao longo dos anos. Fui aqui jogador, conheço bem a ambição e a pressão para ganhar que se incute neste clube e comigo a treinador ela vai manter-se, porque acima de qualquer um de nós está o SC Braga. E o SC Braga é um clube formatado para competir e para ganhar.
Como é que será o SC Braga do Custódio?
– Temos grandes jogadores, isso é o fundamental. Vamos olhar para este grupo e compreendê-lo. A pergunta-chave é: que jogadores temos? Eu vejo jogadores de grande qualidade, vejo jogadores ambiciosos, que querem ganhar, vejo jogadores que gostam de jogar, que quando não têm a bola precisam de a recuperar depressa… Isto para mim, sendo como sou, é tudo o que eu quero. Vejamos a nossa relação com o futebol a partir desta perspetiva: os miúdos querem jogar futebol porquê? Porque gostam muito do Messi, do Ronaldo, do Ronaldinho… Tudo jogadores que se destacam quando têm bola. Não acredito que haja alguém que não comece por ver o futebol assim, é essa a nossa essência e por isso é que defendo que os nossos jogadores precisam de ter a bola e de jogar um jogo que os valorize. Só assim poderemos ver todo o potencial que têm em campo.
A função do treinador é a de permitir que a equipa jogue esse jogo?
– A minha ideia é essa, uma equipa que assuma os jogos. Claro que isso tem riscos, claro que vamos ter 50 metros nas nossas costas, mas é aí que entra a importância do treino e o conhecimento que teremos sobre nós mesmos e da nossa forma de jogar.
A sua lógica é que jogadores felizes são melhores jogadores e fazem melhores equipas?
– Acima disto está uma coisa: eu quero ganhar. Mas com as armas que temos, e que são muito boas, eu quero ganhar jogando bem e podemos fazê-lo. Se aliarmos a isto uma forma de estar e pensar coletiva estaremos muito mais perto do que queremos, que é ganhar e valorizar-nos. Para mim é realmente importante a felicidade de quem trabalha comigo, acho que é um ingrediente fundamental para o sucesso.
O que já viu no jogo de estreia que sirva de referência para o futuro?
– Vi uma equipa alegre e equilibrada com grande dinâmica e qualidade em todos os momentos do jogo. Há coisas que temos de corrigir e melhorar para potenciarmos e tornar mais consistente este futebol que queremos praticar, estamos e vamos continuar a trabalhar nisso.
Esta paragem forçada é um desafio? Causa alguma incerteza sobre o patamar em que as equipas vão estar no regresso?
– O SC Braga vai estar num bom nível. Quero que os jogadores estejam confiantes, cientes e seguros daquilo que vamos ter pela frente. Se eles forem fortes mentalmente, eu tenho a certeza absoluta de que vamos estar fortes em todos os aspectos.
O SC Braga tem criado condições para assumir a formação como um paradigma estratégico. Partilha dessa visão?
– A aposta nas estruturas, como é o caso da Cidade Desportiva, mas também em pessoal qualificado só faz sentido se tiver expressão ao nível da equipa principal, porque é a equipa principal que tem de espelhar aquilo que de bom se faz na formação. O SC Braga deu um grande salto nesse sentido e tem uma base de grande qualidade que nos permite afirmar que, num futuro próximo, vamos ter mais jogadores da formação connosco. Há todo um trabalho que cria essas condições e para que isso se exponencie temos que ter espaço na equipa principal para os jovens da formação, mas não basta o espaço, também temos de ter coragem e paciência. Agora os jogadores da formação do SC Braga sabem que estamos atentos, mas que também depende muito deles e da forma como se preparam para as dificuldades e a exigência do que é ser profissional e atleta do SC Braga.