A ascensão de Custódio até ao comando técnico da equipa principal do SC Braga teve duas etapas marcantes, primeiro como adjunto da equipa B, depois como líder dos Sub-17. Contextos que o treinador passa em revista, recordando a importância das duas épocas numa função que entendia como transitória, mas indispensável, assim como a agradável surpresa que teve ao abraçar um projeto de formação.
A excelente carreira da equipa de juvenis revelou-se um projeto de autor, visível não apenas nos resultados, mas também na qualidade de jogo e na valorização dos atletas. Esta é a segunda parte de uma entrevista a Custódio, que concluímos este domingo com a análise ao presente e ao futuro da equipa principal.
Vamos recuar a 2017. O Custódio estava na Turquia, a jogar, com possibilidades de prolongar a carreira até, quando surge uma proposta do SC Braga. Como foi esse processo?
– Quando aceitei o convite do Presidente, tinha a possibilidade de continuar a jogar, mas houve dois factores que me levaram a encurtar a carreira: por um lado, estava a ser insuportável estar longe da família e dos filhos, eles estarem a crescer e eu falhar esses momentos; por outro, podia antecipar etapas para a carreira de treinador que eu tinha projectado para mim. Poder fazê-lo no SC Braga fazia todo o sentido.
E começa pelo SC Braga B, mas como adjunto. Foi uma etapa importante?
– Não me via como treinador-adjunto, mas senti que tinha de fazer esse caminho e hoje teria feito exatamente igual. Na altura, eu já sabia que não duraria muito tempo como adjunto, pela minha forma de ser e de pensar, pela forma como me preparei e pelos objetivos que tinha. Eu queria liderar o processo e assumir as minhas ideias.
Até que no início desta época surge a oportunidade de ser treinador principal, mas num projeto de formação.
– Nunca na minha vida pensei treinar formação. Eu sou alguém muito exigente, muito regrado, e no universo da formação, por mais rigoroso que se seja e o SC Braga é, isso colide com algumas coisas. Por isso eu confesso que tinha dúvidas que esta forma de estar fosse possível de aplicar em contexto de formação, daí algumas reservas em relação a este passo. Apesar do que disse, e que é verdade, nunca trocaria a experiência que tive nos Sub-17 por nada. Foi excelente experimentar os meus princípios naquela realidade, concretizar aquilo que eu acredito que é importante para os jogadores em contexto de formação e aquilo que eu entendo que é necessário para atingirmos o sucesso, mas para além disso aquela passagem ensinou-me muita coisa e eu disse isso aos jogadores na despedida: se calhar eu aprendi tanto com eles, como eles comigo. Foi fantástico ter passado por aquilo, foi muito exigente insistir numa ideia desde o início, foi muito desafiante também, mas teve uma recompensa extraordinária, porque aquilo em que eu já acreditava veio a confirmar-se e aquilo que eu tinha de melhorar eles ajudaram a que o conseguisse.
Não foi um percurso linear, foi notória a forma como a equipa foi evoluindo ao longo da época, concorda?
– Foi uma etapa de enorme evolução, mas ver aquela equipa jogar era algo que me dava um gozo tremendo. Sentia-se o prazer dos jogadores em campo e a felicidade das pessoas que viam aqueles jogos, porque chegou a um ponto em que já era quase automático, o nosso jogar baseado num futebol de ataque, mas um jogar que não se parte e onde o equilíbrio seria o suporte para todos os momentos do jogo acabou por se tornar numa coisa extraordinária. Quando me refiro a automático não falo na robotização, mas sim ao entendimento por parte dos jogadores da ideia de jogo que era proposta.
Foi também uma experiência que o testou num ciclo menos positivo em determinada fase. A reação à adversidade foi importante? Mudou alguma coisa em si?
– Tivemos uma fase difícil, é verdade, mas eu não mudei uma vírgula no processo. Eu disse-lhes que acreditava muito no que estávamos a fazer e que ia dar resultado, mas faltava a 2.ª parte, que era fazer com que eles também acreditassem. E os resultados apareceram principalmente por este motivo, porque eles acreditaram.
Parte I – “Gosto de pôr os jogadores a falar”
Domingo – Parte III – “SC Braga está formatado para continuar a ganhar”